— Alô?— Mãe... — minha voz falhou de imediato.— Ana? Que voz é essa? O que aconteceu, filha?Fechei os olhos com força.— Mãe, por favor... vem pro hospital. Eu não consigo mais... Eu preciso de você.Houve uma breve pausa do outro lado da linha.— Estou indo. Agora mesmo.Algumas horas se passaram até que vi, pelo vidro da porta, minha mãe chegando acompanhada de Gabriel. Assim que ela entrou e me viu sentada em uma das cadeiras, com os olhos inchados e o rosto abatido, parou no meio do caminho.— Meu Deus... Ana...Ela veio até mim com os braços abertos, e eu não consegui dizer nada. Apenas me deixei abraçar. Gabriel se aproximou devagar, em silêncio.— O que aconteceu? O que o médico disse? — minha mãe perguntou, já chorando antes mesmo da resposta.— É câncer, mãe... — minha voz saiu fraca. — Um linfoma. Ele... ele vai precisar de tratamento. Quimioterapia e mais um monte de outras coisas.Ela levou as mãos à boca, os olhos marejados.— Não... meu netinho, não... — sussurrou. —
Enzo AlbuquerqueEstava em meu escritório pensando no que poderia ter acontecido com Ana Luiza para que ela precisasse se ausentar por dois dias. Na verdade, ela anda estranha ultimamente, sempre tentando me dizer que precisava me contar algo, mas que não podia naquele momento. Eu estava divagando, perdido nesses pensamentos, quando minha irmã entrou feito um furacão.— Oi, irmão mais lindo do mundo! — disse ela, rindo.— O que você quer, tampinha? Estou ocupado.— Quero almoçar com o maninho mais lindo que tenho.— Rafa, por que está me bajulando? O que você quer? — Rafaela estava feliz demais para o meu gosto.— Nada demais, apenas tive uma noite maravilhosa com um cara lindo, gostoso e gato.Encarei minha irmã por alguns segundos e balancei a cabeça.— Não quero saber da sua vida romântica. Se quiser almoçar comigo, sente-se ali e me espere um pouco. — Ela bateu palmas, animada, e se sentou.Voltei minha atenção para o meu trabalho. Depois, fomos almoçar. Após o almoço, Rafa me aco
Ana Luiza Martinelli Gabi já havia ido embora. Precisava trabalhar. Antes de sair, me deu um abraço apertado e disse:— Qualquer coisa, me liga. Estou a um telefonema de distância, Ana. Não hesite.Assenti, grata por ter um amigo como ele. Agora, o quarto estava silencioso, apenas com os sons dos aparelhos monitorando meu pequeno guerreiro. Minha mãe cochilava na poltrona ao lado da janela, e eu estava de pé ao lado da cama do meu filho, observando atentamente os movimentos do médico e da enfermeira.Ela colhia sangue do bracinho dele com todo o cuidado do mundo, enquanto meu filho apertava com força o boneco de pelúcia do Capitão América contra o peito. Seu olhar estava calmo, mas seus olhos cansados não passavam despercebidos por mim.— Pronto! Acabou. — disse a enfermeira com um sorriso reconfortante.— Eu fui um hominho, tia. Não ganho um pirulito? — perguntou ele com a voz fraca, mas esperançosa.A enfermeira riu, trocando um olhar cúmplice com o médico, que assentiu. Ela então
Ana Luiza MartinelliO coração batia tão forte no meu peito que eu podia jurar que qualquer um no corredor conseguiria ouvir. Cada passo que eu dava em direção à sala reservada para acompanhantes era um desafio, um teste de coragem para alguém que já tinha enfrentado muitos.E, como sempre, ele era pontual. Quando virei o corredor, lá estava ele: em pé, com a postura rígida, os braços cruzados e uma expressão carregada de inquietação. Seus olhos encontraram os meus e, por um instante, tudo ao redor parou.— Ana? — ele disse com a voz engasgada. — O que está acontecendo? Você está bem mesmo? Por que marcou comigo no hospital? E por que aqui?Enzo disparava perguntas como quem tentava controlar o caos com palavras. Respirei fundo, tentando manter o controle.— Estou bem... e, ao mesmo tempo, não estou.— Sua mãe está bem? — ele insistiu.Assenti com a cabeça e fiz um gesto para que me seguisse. Entramos juntos na pequena sala. O ar parecia denso, carregado de algo que ainda não tinha no
(Anos Atrás)Ana Luiza Martinelli A chuva castigava a cidade naquela noite, mas nada poderia se comparar à tempestade dentro de mim. O barulho das gotas contra o vidro da sala ecoava, abafando o som dos meus próprios pensamentos, mas não era o suficiente para silenciar a dor que se espalhava pelo meu peito.Meus dedos tremiam enquanto seguravam o celular, meus olhos fixos na tela, como se, a qualquer momento, aquela imagem fosse desaparecer. Como se, de alguma forma, eu pudesse acordar desse pesadelo.Mas a foto continuava ali. Ele continuava ali.Enzo.O homem que eu amava. O homem em quem confiei sem hesitar. O homem que, agora, estava estampado na tela do meu celular... com outra mulher.Ela sorria para a câmera, uma expressão de pura satisfação, e ele estava ao lado dela. Perto o suficiente para que qualquer desculpa fosse inútil. Seus braços envolviam sua cintura de um jeito íntimo demais para ser um mal-entendido.Meu coração batia forte, não por amor, mas por raiva, por incred
(Seis Anos Depois)Os corredores de vidro refletiam minha imagem conforme eu avançava, os saltos ecoando em um ritmo preciso, como um lembrete do caminho que trilhei até ali. O passado já não pesava mais sobre meus ombros, e a menina insegura, que uma vez trabalhou como auxiliar de serviços gerais para ajudar a família, agora não existia mais. No lugar dela, havia uma mulher confiante, determinada e, acima de tudo, implacável. Os funcionários desviavam o olhar quando eu passava, alguns cumprimentavam com um aceno respeitoso, outros cochichavam entre si, admirados ou intimidados. Eu sabia o que diziam,sabia o que pensavam. Ana Luíza Martinelli não era apenas a nova diretora-executiva, mas também a mulher que nunca aceitava um "não" como resposta. Meu nome já não estava vinculado à humildade do passado, mas à força que conquistei no presente. Ao entrar na sala de reunião, senti os olhares recaindo sobre mim. Alguns eram de respeito, outros, de inveja. Os diretores masculinos foram r
Cheguei à minha sala e me joguei na cadeira, irritada. Não acredito que o passado voltou. Só espero que ele não tenha reaparecido para me atormentar. Ouvi batidas na porta e dei permissão para entrar. — Oi, chefinha! Vai sair para comer ou quer que eu peça comida do seu restaurante preferido? — perguntou Camile. Antes que eu pudesse responder, meu celular apitou e vi o nome de Richard piscando na tela. "Oi, princesa! Ontem você saiu correndo do meu apê, quer almoçar comigo?"Não sentia nenhum sentimento por Richard, mas estar com ele era divertido. Ele era bom no sexo, mas era só isso. "Vou sim, me passa o endereço do restaurante que irei te encontrar."Ele me passou o endereço, e então me virei para Camile, que ainda aguardava minha resposta. — Ca, não se preocupe. Vou almoçar com um amigo. — Ok, chefinha. Bom almoço para você. Ela se retirou, e eu comecei a trabalhar para compensar o tempo perdido naquela reunião idiota. Meu telefone tocou, e Camile me avisou que o n
Na hora do almoço, cheguei ao restaurante indicado por Richard. Assim que entrei, vi que ele já estava à minha espera.— Você está muito linda — elogiou, sorrindo antes de beijar meus lábios.— Obrigada por notar. Você já pediu?Ele negou.— Estava esperando você, linda.Richard levantou a mão e chamou o garçom, que se aproximou rapidamente. Fizemos nossos pedidos e, assim que o garçom se afastou, ele se virou para mim.— E então, como está sendo o trabalho?— Cheio de surpresas. E o seu?— Surpresas? Espero que sejam boas.Hesitei, ponderando se deveria contar, mas preferi mudar de assunto.— Vamos deixar os assuntos de trabalho para depois.Ele concordou, e almoçamos em um clima leve e descontraído. Quando terminamos de comer, pedimos café. Richard começou a acariciar minhas mãos de maneira sensual, e eu sorri. Assim que os cafés chegaram, seguimos conversando animadamente.— Quando poderemos sair novamente? — perguntou ele.— Estou cheia de coisas para fazer. Minha mãe virá me visi