— O que quer de mim, senhor Albuquerque? — perguntei, sem humor algum.
— Gostaria de almoçar com você. Assim poderíamos conversar um pouco.
— Muito obrigada, mas preciso recusar o seu convite. Já fui convidada para almoçar com alguém.
— E quem seria? — Enzo perguntou.
— A minha vida pessoal não é da sua conta, senhor. Com licença. — Desliguei o celular sem lhe dar a chance de rebater.
Cheguei ao restaurante indicado por Richard. Assim que entrei, vi que ele já estava à minha espera.
— Você está muito linda — elogiou, sorrindo antes de beijar meus lábios.
— Obrigada por notar. Você já pediu?
Ele negou com um sorriso.
— Estava esperando você, linda.
Richard levantou a mão e chamou o garçom, que se aproximou rapidamente. Fizemos nossos pedidos e, assim que o garçom se afastou, ele se virou para mim.
— E então, como está sendo o trabalho?
— Cheio de surpresas. E o seu?
— Surpresas? Espero que sejam boas.
Hesitei, ponderando se deveria contar, mas preferi mudar de assunto.
— Vamos deixar os assuntos de trabalho para depois.
Ele concordou, e almoçamos em um clima leve e descontraído. Quando terminamos de comer, pedimos café. Richard começou a acariciar minhas mãos de forma sensual, e eu sorri. Assim que os cafés chegaram, seguimos conversando animadamente.
— Quando poderemos sair novamente? — perguntou ele.
— Estou cheia de coisas para fazer. Minha mãe virá me visitar na semana que vem.
— Hum... entendo. Mas sua mãe só vem na próxima semana. E essa semana?
Uma ideia travessa passou pela minha cabeça.
— Vou ao banheiro e, assim que você pagar a conta, te espero lá.
Lancei-lhe uma piscadela e vi seu sorriso malicioso se abrir.
Dei-lhe um sorriso travesso antes de acenar e seguir meu caminho de volta ao trabalho, ainda sentindo os efeitos da nossa pequena escapada.
Trabalhei com afinco até o horário de saída. Ao me espreguiçar na cadeira, estiquei os braços e a coluna, depois arrumei minha mesa e me preparei para sair.
Quando cheguei ao elevador, a porta se abriu revelando Enzo. Ele segurou a porta para mim, e por um instante, hesitei se deveria entrar ou não.
— Não vai entrar? — perguntou, me encarando.
Não queria, mas também não daria esse gostinho a ele.
— Sim, claro! Obrigada por segurar o elevador.
O silêncio dentro daquele cubículo era denso. A tensão entre nós era palpável, como se o ar estivesse pesado demais.
— Você está diferente, Analu. Muito diferente — ele disse, finalmente quebrando o silêncio.
— Sabe o que dizem, né? As porradas da vida fazem a gente crescer — rebati com um meio sorriso, fingindo indiferença.
— E... o que foi daquela menina que acreditava em promessas?
A pergunta me pegou desprevenida.
— Ela morreu — respondi secamente. — Junto com as mentiras que ouvi.
Enzo virou-se levemente em minha direção, o maxilar travado.
— Eu... eu... sinto muito!
Soltei uma risada curta, sem humor.
— Guarde seus sentimentos para você. Ou para quem ainda acredita neles.
— Eu só tentava te poupar de um mundo que você não estava preparada...
— Ah, não me venha com essa desculpa barata. Me trair não foi me poupar — disparei, sentindo a garganta arder.
O elevador chegou ao térreo. A porta se abriu, mas eu não saí. Enzo também não. Ficamos ali, frente a frente, encarando verdades que nunca foram ditas.
— Eu me arrependo, Ana. Todos os dias.
— Tarde demais, Enzo. Tem coisas que nem o arrependimento pode consertar.
— E o que pode?
O tom da sua voz estava mais baixo agora. Quase um sussurro. Como se ele não soubesse a resposta... ou como se estivesse com medo dela.
— Nada. — Minha voz saiu firme, mesmo com o coração tremendo. — A diferença é que hoje eu me amo o suficiente para nunca mais deixar que alguém me destrua como você fez.
Saí sem olhar para trás. Dessa vez, eu quem deixei ele com as palavras presas na garganta.
Cheguei em casa e pedi comida. Estava cansada demais para cozinhar.
Meu cansaço ia além do físico, era mental. Confesso: não estava preparada para ver meu ex-noivo na empresa.
Enquanto esperava a comida, fui para o meu quarto e tomei um banho longo e relaxante. Porém, as lembranças do dia ainda martelavam minha cabeça. Vai ser complicado conviver todos os dias com Enzo sem relembrar o passado. Mas, como boa profissional que sou, preciso deixar tudo isso de lado, pelo menos enquanto estivermos na empresa.
Já de banho tomado e com minha comida em mãos, escolhi um filme bem leve para relaxar a mente. Enquanto assistia, minha mente voltou a divagar... voltou para Enzo. E eu sabia muito bem que deveria mantê-lo o mais longe possível de mim.
Porém, havia algo que nos ligava. Algo que muitas pessoas não sabiam.
Algo que nos ligaria... para sempre.