Ana Luiza Martinelli Gabi já havia ido embora. Precisava trabalhar. Antes de sair, me deu um abraço apertado e disse:— Qualquer coisa, me liga. Estou a um telefonema de distância, Ana. Não hesite.Assenti, grata por ter um amigo como ele. Agora, o quarto estava silencioso, apenas com os sons dos aparelhos monitorando meu pequeno guerreiro. Minha mãe cochilava na poltrona ao lado da janela, e eu estava de pé ao lado da cama do meu filho, observando atentamente os movimentos do médico e da enfermeira.Ela colhia sangue do bracinho dele com todo o cuidado do mundo, enquanto meu filho apertava com força o boneco de pelúcia do Capitão América contra o peito. Seu olhar estava calmo, mas seus olhos cansados não passavam despercebidos por mim.— Pronto! Acabou. — disse a enfermeira com um sorriso reconfortante.— Eu fui um hominho, tia. Não ganho um pirulito? — perguntou ele com a voz fraca, mas esperançosa.A enfermeira riu, trocando um olhar cúmplice com o médico, que assentiu. Ela então
Ana Luiza MartinelliO coração batia tão forte no meu peito que eu podia jurar que qualquer um no corredor conseguiria ouvir. Cada passo que eu dava em direção à sala reservada para acompanhantes era um desafio, um teste de coragem para alguém que já tinha enfrentado muitos.E, como sempre, ele era pontual. Quando virei o corredor, lá estava ele: em pé, com a postura rígida, os braços cruzados e uma expressão carregada de inquietação. Seus olhos encontraram os meus e, por um instante, tudo ao redor parou.— Ana? — ele disse com a voz engasgada. — O que está acontecendo? Você está bem mesmo? Por que marcou comigo no hospital? E por que aqui?Enzo disparava perguntas como quem tentava controlar o caos com palavras. Respirei fundo, tentando manter o controle.— Estou bem... e, ao mesmo tempo, não estou.— Sua mãe está bem? — ele insistiu.Assenti com a cabeça e fiz um gesto para que me seguisse. Entramos juntos na pequena sala. O ar parecia denso, carregado de algo que ainda não tinha no
(Anos Atrás)Ana Luiza Martinelli A chuva castigava a cidade naquela noite, mas nada poderia se comparar à tempestade dentro de mim. O barulho das gotas contra o vidro da sala ecoava, abafando o som dos meus próprios pensamentos, mas não era o suficiente para silenciar a dor que se espalhava pelo meu peito.Meus dedos tremiam enquanto seguravam o celular, meus olhos fixos na tela, como se, a qualquer momento, aquela imagem fosse desaparecer. Como se, de alguma forma, eu pudesse acordar desse pesadelo.Mas a foto continuava ali. Ele continuava ali.Enzo.O homem que eu amava. O homem em quem confiei sem hesitar. O homem que, agora, estava estampado na tela do meu celular... com outra mulher.Ela sorria para a câmera, uma expressão de pura satisfação, e ele estava ao lado dela. Perto o suficiente para que qualquer desculpa fosse inútil. Seus braços envolviam sua cintura de um jeito íntimo demais para ser um mal-entendido.Meu coração batia forte, não por amor, mas por raiva, por incred
(Seis Anos Depois)Os corredores de vidro refletiam minha imagem conforme eu avançava, os saltos ecoando em um ritmo preciso, como um lembrete do caminho que trilhei até ali. O passado já não pesava mais sobre meus ombros, e a menina insegura, que uma vez trabalhou como auxiliar de serviços gerais para ajudar a família, agora não existia mais. No lugar dela, havia uma mulher confiante, determinada e, acima de tudo, implacável. Os funcionários desviavam o olhar quando eu passava, alguns cumprimentavam com um aceno respeitoso, outros cochichavam entre si, admirados ou intimidados. Eu sabia o que diziam,sabia o que pensavam. Ana Luíza Martinelli não era apenas a nova diretora-executiva, mas também a mulher que nunca aceitava um "não" como resposta. Meu nome já não estava vinculado à humildade do passado, mas à força que conquistei no presente. Ao entrar na sala de reunião, senti os olhares recaindo sobre mim. Alguns eram de respeito, outros, de inveja. Os diretores masculinos foram r
Cheguei à minha sala e me joguei na cadeira, irritada. Não acredito que o passado voltou. Só espero que ele não tenha reaparecido para me atormentar. Ouvi batidas na porta e dei permissão para entrar. — Oi, chefinha! Vai sair para comer ou quer que eu peça comida do seu restaurante preferido? — perguntou Camile. Antes que eu pudesse responder, meu celular apitou e vi o nome de Richard piscando na tela. "Oi, princesa! Ontem você saiu correndo do meu apê, quer almoçar comigo?"Não sentia nenhum sentimento por Richard, mas estar com ele era divertido. Ele era bom no sexo, mas era só isso. "Vou sim, me passa o endereço do restaurante que irei te encontrar."Ele me passou o endereço, e então me virei para Camile, que ainda aguardava minha resposta. — Ca, não se preocupe. Vou almoçar com um amigo. — Ok, chefinha. Bom almoço para você. Ela se retirou, e eu comecei a trabalhar para compensar o tempo perdido naquela reunião idiota. Meu telefone tocou, e Camile me avisou que o n
Na hora do almoço, cheguei ao restaurante indicado por Richard. Assim que entrei, vi que ele já estava à minha espera.— Você está muito linda — elogiou, sorrindo antes de beijar meus lábios.— Obrigada por notar. Você já pediu?Ele negou.— Estava esperando você, linda.Richard levantou a mão e chamou o garçom, que se aproximou rapidamente. Fizemos nossos pedidos e, assim que o garçom se afastou, ele se virou para mim.— E então, como está sendo o trabalho?— Cheio de surpresas. E o seu?— Surpresas? Espero que sejam boas.Hesitei, ponderando se deveria contar, mas preferi mudar de assunto.— Vamos deixar os assuntos de trabalho para depois.Ele concordou, e almoçamos em um clima leve e descontraído. Quando terminamos de comer, pedimos café. Richard começou a acariciar minhas mãos de maneira sensual, e eu sorri. Assim que os cafés chegaram, seguimos conversando animadamente.— Quando poderemos sair novamente? — perguntou ele.— Estou cheia de coisas para fazer. Minha mãe virá me visi
Enzo AlbuquerqueDepois de anos fora do país, finalmente estou de volta. Não que eu sentisse falta daqui, mas agora tenho um novo propósito: a minha própria empresa. Pela primeira vez, algo que construí sem precisar da influência da minha família, sem que meu sobrenome fosse a única coisa que me definisse. Isso significava muito para mim. Finalmente, Enzo Albuquerque seria mais do que apenas o herdeiro de uma dinastia de empresários bem-sucedidos.Minha volta ao Brasil foi estratégica. Passei anos na Europa, absorvendo conhecimento, fazendo contatos, aprendendo sobre o mercado. E agora, com a aquisição da SoftTech, eu tinha algo só meu. Uma empresa promissora, com potencial de crescimento e inovação. E o melhor: sem nenhuma interferência da minha família. Não que eu não os respeitasse, mas estar sempre sob as asas da minha mãe era sufocante. Eu queria construir algo por mérito próprio, provar que era capaz sem precisar da aprovação deles.Entrei no prédio da SoftTech no início da manh
Ana Luiza Martinelli Meu despertador tocou pela quinta vez, e eu ainda me recusava a levantar. Na verdade, eu não queria encarar Enzo. Por que o destino resolveu ser cruel comigo e colocar o cara que já foi o amor da minha vida e, ao mesmo tempo, me destruiu no local onde trabalho?Como vi que não poderia enrolar mais, levantei-me e me arrastei até o banheiro. Após fazer minha higiene matinal, fui à minha cafeteria preferida e comprei um café bem grande e um donut. Terminei tudo e voltei para o carro, pus uma música animada e, ao chegar à empresa, estacionei. Fiquei uns dez minutos dentro do carro, debruçada sobre o volante, e, de repente, ouvi batidas na minha janela. Quando levantei a cabeça, vi que era meu amigo.— Vamos, minha diretora executiva. — Ele disse sorridente, e eu revirei os olhos.— Acho que vou inventar alguma emergência e voltar para casa. — Digo enquanto saio do carro.— Tudo isso é para evitar o nosso CEO? — Ele perguntou, ainda sorrindo.Revirei os olhos e balanc