Mundo ficciónIniciar sesiónO dia começou antes de mim. Acordei com a lembrança da última sessão — não cena, não aula, mas algo entre confissão e teste. Meu corpo respondia antes do pensamento, como se Dante tivesse deixado marcas invisíveis que eu não sabia onde começavam ou terminavam.
Enquanto me vestia, percebi algo novo: eu não queria apenas estar preparada. Eu queria estar à altura. Escolhi um blazer cinza escuro, camisa branca alinhada, salto firme. Nada exagerado — mas deliberado. No meio desse ritual, o telefone vibrou. — Bom dia, Isabela — disse ele, com aquela voz baixa que parecia tocar mais do que escutar. — Espero que esteja pronta. — Para quê? — perguntei, mesmo sabendo que a resposta nunca viria inteira. — Para testar limites. 10h. Décimo oitavo andar. Não se atrase. Nada em mim ficou indiferente. No caminho, tudo parecia amplificado — o som dos carros, o ritmo dos passos, o silêncio do elevador. Era como se o mundo soubesse que eu estava indo a um lugar onde regras comuns não se aplicavam. Quando a porta se abriu, ele já estava lá. Dante Cruz. Contido. Austero. Observando — não a roupa, não a postura, mas aquilo que eu tentava controlar. — Bom dia — disse ele. — Pronta para começar? Assenti. Ele não sorriu, mas algo em seu olhar registrou: ela voltou. Sobre a mesa, havia envelopes numerados. Nenhuma explicação. Nenhuma instrução além da presença dele — e isso bastava. Ele fez um gesto mínimo com o queixo. — Comece. O primeiro envelope era direto: resolver um conflito simulado com assertividade, rapidez e controle. Enquanto eu falava, ele circulava, silencioso, observando não as palavras — mas a reação do meu corpo quando seus passos se aproximavam. Quando finalizei, ele simplesmente disse: — Controle é bom. Mas quero intenção. Eu senti. Não era sobre certo ou errado — era sobre presença. O segundo envelope exigia improviso emocional. O personagem provocava, testava minha paciência, minha confiança. No meio da simulação, percebi que Dante não observava a cena — observava o que a cena fazia comigo. Quando acabou, ele se aproximou o suficiente para que sua respiração quase tocasse meu pescoço. — Você reage bem à pressão — sussurrou — mas ainda está pensando demais. O corpo sente antes da mente. Confie nisso. Meu coração acelerou sem permissão. O terceiro envelope era mais complexo: tomada de decisões rápidas em negociação simulada. Várias situações inesperadas, várias mudanças. Eu respondia com firmeza, e a cada escolha ele observava sem interferir, sem julgamento — como alguém avaliando um diamante bruto. Quando terminei, ele murmurou: — Agora começa o verdadeiro teste. Não houve pausa. O quarto envelope era o mais provocador até então: improvisação combinada com influência emocional. Eu precisava convencer, provocar reação, assumir espaço. No meio da tarefa, Dante se posicionou atrás de mim. Não tocou. Não falou. Apenas existiu ali — intenso, calculado, presente. A tensão era quase física. — Veja — disse ele, finalmente — você não está mais tentando acertar. Está jogando. Era verdade. Algo em mim havia mudado. Quando abri o último envelope, minhas mãos tremiam — não de medo, mas de antecipação. A instrução era simples: "Entrega." Nada mais. Por um instante, fiquei imóvel. O silêncio era uma arena — e ele esperava. Respirei fundo e comecei a agir como se já soubesse o final: postura firme, voz precisa, intenção no olhar. Não obedecendo — escolhendo. Ele caminhou até mim. O ar pareceu vibrar. — Agora sim — disse ele, baixo, rouco, quase um segredo. — Isso é você sem hesitação. Não havia elogio na frase — havia constatação. — Aprendeu algo hoje? — perguntou. Pensei em respostas corretas, teóricas, formais. Nenhuma servia. — Aprendi que pensar não basta — respondi. Ele inclinou a cabeça, satisfeito. — E? Respirei. — Que o contrato não testa regras. Testa limites. Um instante. Um silêncio que tinha peso. Então ele sorriu — o tipo de sorriso que não se dá, se concede. — Exatamente. Ele se afastou um passo, mas a ausência era tão intensa quanto a presença. — Hoje você deu um passo que a maioria não consegue — disse. — Amanhã… será diferente. — Diferente como? — perguntei, sem conseguir evitar. Ele me encarou com uma calma que incendiava. — Hoje você aprendeu a agir. Amanhã, quero ver até onde pode ir. Senti o corpo responder antes da mente. Era medo. Era curiosidade. Era desejo. Era tudo misturado — e impossível de negar. Ele se aproximou novamente, só o suficiente para que suas palavras fossem sentidas mais do que ouvidas. — Não volte se vier com dúvidas. Volte se estiver pronta para continuar. Eu não hesitei. — Eu volto. Ele assentiu — como quem já sabia. Enquanto saía, percebi: não havia mais retorno psicológico. Não era só trabalho. Não era só contrato. Era jogo. E eu acabara de entrar na fase em que ninguém j**a seguro.






