A manhã cortava o horizonte como uma lâmina e ainda assim, por algum motivo, eu não sentia o mundo começar — sentia apenas a presença dele. Saí do quarto como quem atravessa uma linha invisível; cada passo tinha peso. A viagem tinha deixado rastros: não era apenas o cansaço, era algo que o ambiente não conseguia disfarçar. Havia eletricidade pairando entre nós.
No corredor, Dante me esperava encostado na parede, a gravata solta, o paletó por cima do ombro. Ele não olhou de imediato; prolongou a espera como se controlasse até o tempo. Quando seus olhos encontraram os meus, senti um puxão como se alguém tivesse afundado a mão na minha nuca.
— Dormiu bem? — perguntou, voz contida, sem curiosidade fingida.
— O suficiente — respondi, fingindo casualidade.
Ele sorriu de lado, um movimento mínimo, calculado. Era sempre assim com ele: uma ação com resultado enorme. A mão que segurava o paletó ajeitou o tecido; o gesto foi pequeno, mas minha pele registrou tudo. Aproximei-me sem perceber e me