Capítulo 247
Ruth
Chegamos em casa quando a tarde já começava a cair no quintal, desenhando faixas de luz pela sala. Havia pólvora ainda presa nas roupas, mas em Albert havia outra coisa — um brilho que não era só de vitória: era de alívio. Ele tirou o casaco, pendurou no encosto da cadeira e, sem anúncio, foi direto para a cozinha como quem reencontra um lugar antigo do corpo.
— Você está sorrindo. — observei, encostando no batente.
— Estou com fome. — ele disse, abrindo a geladeira. — E com sorte.
— Sorte?
— Sorte de ter você aqui. — falou sem olhar, mas eu vi o sorriso de canto.
Entrei, arregaçando as mangas. A cozinha tinha cheiro de café; o som das facas no suporte, o brilho da panela de ferro. Ele acendeu o fogo, eu puxei a tábua. O movimento entre nós foi natural, antigo, fácil. Sempre combinamos. Ele cortava os tomates em cubos certinhos, eu picava alho como se estivesse contando batimentos. O azeite chiou — e Albert assobiou baixo, distraído, como fazi