Tio: Aquele estranho

 Isadora Alencar

As portas do elevador mal se abriram, já corri. O salto batia apressado no chão de mármore do saguão do hotel, abafado pelas batidas do meu coração. As lágrimas ardiam, represadas no limite. Apertei o sobretudo contra o corpo, ainda sentindo os dedos daquele homem marcados em minha pele, ainda sentindo o gosto daquele homem na minha boca.

Não sabia seu nome, e nem queria saber.

Só sabia que ele era tudo que não deveria ter acontecido.

Entrei no táxi tremendo.

As mãos agarradas no tecido da saia curta de courino vermelho. Eu me odiava. Odiava minha confusão, meu corpo suado, meu desejo tão entregue, minhas carnes trêmulas.

Odiava ter gostado tanto.

Assim que cheguei em casa, larguei o sobretudo no chão e me joguei no sofá, chorando com a alma. O espelho na parede me refletia: olhos borrados, cabelo bagunçado, o batom vermelho manchado nos cantos da boca. A mulher que me encarava não era eu.

Eu traí Enzo.

Mas… não era ele.

Eles eram parecidos, tão parecidos. Corpo forte, braços largos, perfume amadeirado… Eu pensei que era ele. Eu juro.

Era pra ser uma surpresa.

Mas aquele homem…

Toquei os lábios, ainda quentes. Lembrei da forma como minha boca o explorou, como ele deixou que eu o dominasse por um instante — só para depois me tomar como se eu fosse dele.

Lembrei do silêncio dele. Não perguntou meu nome, não questionou minha dança.

Apenas apagou a luz.

Obedeceu como quem já sabia o que queria.

E quando me teve… me atravessou como se me conhecesse por dentro.

Meu corpo inteiro respondeu a ele. E agora, ele era um fantasma quente, agarrado aos meus ossos, me lembrando do prazer que eu nunca conheci com ninguém — nem mesmo com Enzo.

O celular tocou. Duda. Claro que seria ela. A cúmplice de tudo. Mas eu não atendi.

Não conseguiria explicar. Não conseguiria dizer que, na ânsia de surpreender meu noivo com uma noite ousada, eu entreguei meu corpo ao homem errado, tomei um banho para me lavar de tudo aquilo, mas o meu corpo persistia, eu sentia o seu toque em minhas entranhas, elas não eram as mesmas, deitei na cama, rolei o resto da noite.

Liguei para Enzo, mas como sempre, deixe o seu recado.

Engoli o choro, enxugando o rosto. Mas ele voltava, insistente, sufocante.

 

Entrei no banheiro, me sentei diante do espelho e tentei me maquiar para o trabalho.

Hoje deveria ser um dia feliz. Mas o rímel borrava com as lágrimas, o batom tremia na minha mão. E no reflexo, o que via era apenas uma mulher partida ao meio: o corpo queimando por um estranho, e o coração preso a um homem que agora parecia tão... pálido diante da memória daquela noite.

 

Fui para o trabalho, apesar de não estar em condições, eu precisava estar lá. O restaurante estava agitado, como sempre. Passei entre as mesas, desviando de garçons, tentando manter a compostura. Meus olhos procuraram Enzo. Nada. Pelo menos por agora. Me joguei no trabalho como se isso pudesse calar a bagunça dentro de mim. Mas no início da tarde, como num roteiro calculado pelo destino, ele apareceu. Enzo.

— Amor — disse ele, abrindo um sorriso bonito, mas... não era o sorriso dele que me feria. Era o vazio que me causava.

— Vamos lá em cima um poucor? Quero você um pouco pra mim. — Concordei com a cabeça. Eu precisava contar. Eu precisava libertar aquela culpa antes que ela me esmagasse. Subimos ao terraço do prédio da família dele — um lugar secreto nosso, onde ele costumava me levar para conversar sobre o futuro.

Lá em cima, o céu estava claro, e o vento bagunçava meu cabelo.

 

— Senti sua falta — ele disse, me puxando pela cintura, colando nossos corpos.

— Enzo, eu... — Suspirei buscando me afastar do seu beijo, quando apertou o meu nariz, rindo.

— Que dia você vai fazer a tal surpresa, hein? — ele riu, me dando um selinho.

— Fiquei esperando algo essa semana... — Meus olhos se arregalaram. Ele nem sonhava que já tinha acontecido.  Ele não era o homem daquela noite. Eu sequer conseguia organizar as palavras, diante dos seus olhos escuros nos meus.  — Amor...eu...— Eu buscava dizer. 

Senti as mãos dele descerem pelas minhas coxas, me apertando contra o parapeito de concreto. O vento soprava forte. Os carros pareciam formigas lá embaixo. Ele me beijava o pescoço. Me tocava. Mas tudo que eu sentia era... nada. Nada. Nenhuma faísca, nenhuma vontade. Eu estava ali, com o homem que eu amo, mas meu corpo… meu corpo ainda queria outro.

O silêncio daquele homem, a presença dele, o toque que me devorava em silêncio, aquilo sim havia me marcado. E agora eu estava presa em um noivado com um homem que não me acendia. A culpa me rasgava. Mas pior que ela, era o desejo que ainda me queimava por outro. Por um homem que nem sabia meu nome.

— Enzo, Enzo...— Tentei dizer enquanto erguia a minha saia, o vento bagunçava os meus cabelos, eu a segurei a saia para baixo, ele a movia para cima, entre beijos em meu pescoço, chupadas.

 

— Estamos sozinhos aqui, ninguém vai subir...— Sussurou contra a minha pele. Engoli em seco, nós precisavamos saber, mas eu já tinha descoberto.  Enzo sequer esperou qualquer resposta, quando contra o parapeito, se colocou entre as minhas pernas.

 

— Tô louco para te sentir de novo, não vejo a hora de estarmos juntos para sempre, nossa já é semana que vem. O olhei em seu rosto, sem ter tanta certeza, o amor era importante, mas havia mais, eu queria mais tanto para receber, quanto para dar, e isso, eu não estava dando.  — Enzo, nós precisamos conversar. — Pedi tentando me afastar, mas ele segurou a minha cintura.

— Fala, estou aqui a todos ouvidos, estou sonhando com você usando o vestido de noiva, esta tudo...Ah! — Ele me penetrou, franzi o cenho pelo incomodo, ainda estava dolorida do outro, sem sentir porra alguma, exceto incomodos.

— Já! — Menti em sussurro, eu não estava pronta, nenhum um pouco pronta, eu queria que ele terminasse, que ele parasse, que tudo aquilo logo acabasse, que o seu pau molhado parasse de entrar e sair, que ele parasse de ofegar contra a minha orelha, de beijar o meu pescoço, morder o meu ombro, me cheirar... Não era ele, era eu, que ainda estava lá, naquelas mãos, sem aqueles excessos de gemidos altos, excessivos.

— Essa boceta é minha, não é? Diz que eu sou o dono dela. — E sem essas perguntas idiotas, eu era dele, ao menos me sentia assim.

— Claro...claro que é, meu amor.  — Mas tudo mudou quando olhei para a escada, o homem ali de pé, de blusa preta, óculos escuros, cabelos pretos, forte, barba por fazer, semblante fechado nos olhando com as mãos nos bolsos, nos assistia, e eu o reconheci, ele nos assistia em silêncio, tentei empurrar Enzo que me segurou mais firme, falando sem parar. O Homem de semblante fechado, retirou os óculos, nos olhando como se me reconhecesse, e a semelhança era imensa, talvez mais fiel, como Alvaro Tavares, o meu sogro, porém mais cuidado, engoli em seco, os seus olhos escuros se fixaram aos meus de imediato. 

 

O olhei por inteiro de cima para baixo, e quando os meus olhos encontraram o seu pau, aquele pau, as lembranças dele, saindo e entrando na minha boca, deslizando, escorregando, seus xingamentos prosmicuos, a maneira como ele segurou a minha nuca, como me dominou naquela cama.

 

— Ah! Ah!— Enzo me olhou de lado, sem parar de se mover, enlacei a sua cintura rebolando nele com vontade, mas não era ele que eu queria, era insano, profano, eu nunca me senti assim. — Gozei querida! — O homem dentro de mim, disse enquanto o jato quente escorria, e o seu pau amolecia, se apoiando no parapeito quase me derrubando nele. 

 

Não desci, saltei do seu colo, vendo ali aquele homem nos olhar, Enzo se recuperava em mim, quando se afastou, que o percebeu.

 

— Ah merda, tio Dante — Disse nervoso, o sorriso amarelo. — Quê?— A pergunta não saiu, escapou quase em grito, enquanto um jato de gozo escorria pelas minhas pernas, o olhar do homem de preto para mim depois para o meu noivo, me fez engoli em seco. — Tio? O que faz aqui?

 

Enzo ainda buscava se ajeitar, eu disse para ele que não dava. Tio? Eu não sabia onde enfiar a minha cara de vadia, suja, era como eu me sentia.  

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