Isadora Alencar
Eu sempre vi um Dante forte. Rígido. Incurvável. Ele se escondia atrás de uma postura impenetrável, mas seus olhos… ah, os olhos dele sempre o entregaram. Ou talvez fosse apenas eu que tivesse atravessado as barreiras que ele tentava manter de pé — muros que ele mesmo já não conseguia sustentar diante de mim.
E quando ele desabou no meu ombro, entre soluços sufocados e perguntas sem resposta, algo em mim mudou. Foi ali que eu compreendi. A dor do filho esquecido, apagado da memória de um pai que, ao reconstruir sua vida, deixou-o à margem. Um menino deixado de lado quando o pai se casou de novo, quando formou outra família — e ignorou a que já existia.
Entendi o porquê da frieza, da inacessibilidade. Entendi o vazio nos olhos do homem que foi o primeiro a tocar minha alma e meu corpo de maneira tão brutal e intensa. Entendi por que só o conheci vestida como uma prostituta em um quarto de hotel, confundindo-o com o meu ex-noivo. Entendi por que o nome "Dante" nunca foi