NARRAÇÃO DE LARA GASPAR...
Aquela manhã se tornou tensa após a saída dele. Procurei ocupar-me lavando as xícaras, evitava de responder as perguntas de Abigail. Estava claro o quanto ela o deseja, mas diferente do que pensa, não estou com ciúmes ou inveja. Estou lhe poupando, pois aquele homem é assustador! Desde que me prove ao contrário, eu não vou confiar. A sorte estava à meu favor. A loja de conveniência ficou lotada, nos ocupando bastante. Só assim para Abigail dar uma trégua, mas na hora do almoço ela fez questão de sentar na mesma mesa em que eu estava. Coisa que ela nunca fazia, reparou minha quentinha simples, uma das coisas que não suporto, é que me encarem enquanto me alimento. - O que foi? - Soltei o garfo. Ela riu negando. - Está evitando de falar dele para mim, não quer me passar o seu contato. Você por acaso... - Por Deus Abigail! - Levantei perdendo o resto do apetite. - Então me passe o número dele! Sempre quando peço, você foge, diz que vai fazer isso ou aquilo... - Preciso perguntar à ele. - Avisei nervosa. - Eu não sou perigosa, e nem estou querendo stalkeá-lo. Só quero o conhecer melhor, bater um papo por mensagens... - De qualquer forma, eu não posso passar o número das pessoas sem o seu consentimento, é anti-ético. - Seria anti-ético se acaso ele fosse famoso... - Se eu o encontrar pelo corredor do prédio, eu peço permissão. - Abigail sorriu demonstrando empolgação. Forcei um sorriso fugindo para a copa da loja de conveniência, apenas para poder almoçar em paz. (...) Eu gosto quando ficamos atoladas de trabalho, quando existem muitos clientes, indo e vindo, assim as horas passam mais rápido. De fato foi o que aconteceu. Saí da loja de conveniência cansada, apenas com minha bolsa pendurada em meu ombro. Abigail se despediu sorridente, subiu em sua moto elétrica. Forcei um sorriso quando ela acenou dando partida em sua Scooter. Depois que ela virou a esquina, juntei as sobrancelhas confusa. Ela não é de se despedir, algo me diz que ela aguarda atentamente o número do assassino do elevador. Coitada... Aproveitei para chamar um uber. Mas naquele horário era difícil, muitos cancelavam por estarem trabalhando em horário de pico no trânsito. Resmunguei ao ser negada pela quinta vez... Fiquei próxima da bomba de gasolina, é um lugar mais movimentado evitando um assalto. Os carros faziam filas para reabastecerem, já disse que odeio trânsito? Cidade grande, e tudo que possa causar estresse. Fiquei ali, olhando a tela do meu celular resmungando. À essa altura Andrea já deve estar chegando em casa. Ele gosta de comer yakissoba todas as quintas... - Lara Gaspar? - Aquela voz teve o poder de me fazer parar de pensar. Tirei os olhos da tela do celular, e encontrei com Matias Lopes, mais conhecido como o assassino. Ele estava dentro do seu carro conversível. Guardei meu celular disfarçando minha tensão, uau, aquele carro preto é lindo. - Já saiu do trabalho? - Queria mentir, queria dizer que iria fazer um extra, mas olhei para atrás, a loja de conveniência estava totalmente trancada com as luzes apagadas. - Pois é... - Franzi os lábios ao lhe fitar. - Já chamei um uber. - Mostrei meu celular evitando qualquer convite. - Não se preocupe, pode cancelar. Esse horário é uma loucura. - Ele falou tranquilamente, abriu a porta carona do seu carro conversível, eu nunca andei naquele estilo de carro. - Não se preocupe, o motorista deve estar por perto. - Menti, senti meu celular vibrar, olhei brevemente. Outro cancelamento. - Eu insisto! Vamos Lara, eu não sou um assassino. - O julguei ligeiramente. Lá estava ele segurando o volante, aguardando-me. O carro de trás buzinou sem interrupção apresentando sua impaciência. Matias continuava à olhar-me com serenidade, nem mesmo o barulho da buzina lhe incomodava. Resmunguei comigo mesmo, me xingava enquanto corria passando na frente do seu carro, entrei, bati a porta sem conseguir olhar em sua direção. Ele sorriu dado por satisfeito, deu partida em seu carro e saímos do posto de gasolina. Ele mesmo ligou o som do carro, disfarcei ao esconder um pequeno riso, bastou escutar minha música favorita tocando na rádio. "Beautiful things" Em uma pista reta apreciei a viagem com o vento sacudindo meus cabelos, mas ainda não sentia confiança com meu vizinho. Disfarcei ao olhar suas mãos pálidas segurando o volante. Queria olhar na direção do seu rosto, seus cabelos também estão voando, posso ver pela silhueta. Decidi quebrar o silêncio. - Você disse Gaspar. - Ele riu confuso, olhou-me tirando os olhos brevemente da pista. - Perdão? Não entendi. - Mais cedo dentro do elevador, Você afirmou não se lembrar do meu nome. Mas em meu trabalho você falou meu nome e sobrenome. Eu não havia mencionado meu sobrenome. - Matias sorriu compreendendo. - Sim, é verdade. Eu não me lembrava do seu nome. Então você me falou, procurei nas redes-sociais, pois me recordo de ter mandado convite de amizade ontem à noite. Então encontrei, Lara Gaspar. - Sorri me sentindo meio burra. Jurava que estava por cima, me sentia como uma detetive. - Entendi. - Olhei a pista envergonhada. - Gosta daquele trabalho? - Gostaria de gostar mais, aah, Abigail. Aquela atendente, ela pediu o seu número. - Matias olhou dentro dos meus olhos. Seu olhar é tão perfeito, azul do aceano ártico. Dá até um frio na barriga ao encará-lo. - Pode passar. - Sorri, mas me estômago embrulhou de uma forma bem peculiar. Acho que estou enlouquecendo l