POV Isabela
O relógio da parede da sala da minha mãe parecia bater mais alto do que o normal. Cada tic-tac era um lembrete de que eu estava ali não por obrigação, mas por necessidade. Eu precisava de uma voz que me lembrasse quem eu era, ou talvez, quem eu poderia ser.
Minha mãe estava sentada no sofá, as mãos pousadas sobre o colo, postura ereta, olhar fixo em algum ponto da janela. Sempre elegante, sempre contida. Mesmo no silêncio, era uma extensão de Álvaro: discreta, calculada, invisível quando precisava ser.
— Você parece cansada — disse ela, quando me aproximei.
Sorri sem emoção, acomodando-me ao lado dela. O perfume floral que sempre usava me envolveu, despertando memórias da infância. De um tempo em que eu ainda acreditava que ela era feliz.
— Cansaço não é bem a palavra — respondi.
Ela me olhou de lado, com aquela expressão que misturava cuidado e resignação.
— O que aconteceu, Isa?
Por um segundo, pensei em abrir tudo. Contar sobre Daniel, as amantes, as prov