Jamile, uma mulher marcada por um passado vergonhoso. É mandada por seus pais para Marrocos, onde ela viverá com seu tio Ali Abdul Aila. Malvista por eles é forçada a trabalhar na casa como empregada. Um mal-entendido a coloca em maus lençóis. Surge então, Said Farrah Haji que se torna seu salvador. Amargo engano...
Ler maisCheguei em casa depois de um dia puxado e meus pais estavam me esperando na sala.
- Catarina, senta aí que precisamos conversar. – Meu pai falou e parecia bem nervoso. - Pode falar, pai, o que aconteceu? – Perguntei ao meu pai cansada, eu tinha trabalhado o dia todo, ido pra faculdade à noite e, ao chegar em casa, a única coisa que eu queria era tomar um banho e cair na cama. Mas não foi possível. - Catarina, chegou o convite de casamento da sua prima. – Minha mãe falou. - Aquela mulherzinha não é minha prima! – Falei já ficando nervosa. - Catarina, ela é a sua prima. – Minha mãe falou. – É melhor você parar com esse ataque de infantilidade. A Melissa já bateu nela e fez um escândalo aqui em casa. Agora chega! Ela é filha da minha irmã, portanto é sua prima. - Me desculpa, mãe, mas ela não é nada pra mim. – Tentei manter a calma. – Ela ficou com o meu namorado na minha cama, isso não é coisa que se faça. Eu namorava o Cláudio há quatro anos, ele foi meu primeiro namorado, e o encontrei na minha cama, no meu quarto, transando com a Kelly, minha prima! Eu fiquei em choque. Claro que a Melissa, minha melhor amiga, partiu pra cima deles. Desde então as coisas ficaram tensas em minha casa, pois meus pais insistiam que era uma bobagem e que eu deveria agir como se nada tivesse acontecido e voltasse a conviver com a minha prima. - Errado foi ele, Catarina, que era seu namorado. – Minha mãe argumentou. – A Kelly, coitada, foi seduzida, ele a desonrou, agora vai se casar com ela pra ela não ficar mal falada na cidade. - Ah, mãe! Me poupe e se poupe! A cidade inteira sabe que a Kelly é uma vadia... – Perdi a paciência. - Catarina, olha o vocabulário! – Meu pai chamou a minha atenção. – Olha aqui, se você não quer conviver com a Kelly tudo bem, mas você vai a esse casamento. E chega desse comportamento grosseiro. - Eu o quê? – Achei que eu tinha ouvido errado. - Você vai ao casamento da sua prima, Catarina. Isso é uma ordem! Nós somos os seus pais e você vai obedecer. – Minha mãe falava brava comigo, como se eu fosse a errada nessa situação. - Sinto muito, mãe, mas eu não vou! Eu sigo as regras de vocês, eu sou uma boa filha, mas dessa vez não vai dar. Eu fui a ofendida! Eu tenho todo o direito de não querer ser a piada da família mais. – Falei já chorando. - CHEGA, CATARINA! – Meu pai gritou e me assustou. – Você vai a esse casamento e ponto final. - Mas, pai... - Não quero saber, Catarina! É importante pra sua mãe manter a paz na família. Então você vai e pronto. – Meu pai falou não dando margem para questionamentos. Fui para o meu quarto e passei a noite chorando. No dia seguinte contei tudo para a Melissa, que não perdeu tempo, arrumou os convites para um baile de máscaras, evento de gala, falando para os meus pais que seria importantíssimo para a minha carreira, já que os empresários mais importantes da cidade estariam lá, eu faria contatos muito importantes e nossos professores haviam prometido nos apresentar a vários empresários que abririam portas para o nosso futuro profissional. Em princípio meus pais não estavam muito convencidos, mas os pais da Melissa conversaram com eles e os convenceram de que seria uma excelente oportunidade para o meu futuro. Então eles concordaram que eu deveria aproveitar a oportunidade. - Catarina, você não pode me dizer não! Já comprei os convites, as máscaras e já até convenci seus pais de que é um evento importantíssimo para o seu futuro profissional, o que me deu um trabalhão. Essa festa vai ser incrível e você não vai perder! – Melissa, falava e me olhava com os olhos de um cachorrinho abandonado, juntando as mãos como se suplicando. Eu estava sentada em minha mesa no trabalho, no meio da tarde de uma quinta feira, entre anotar recados e fazer ligações, e a Mel apareceu com café, bolinhos de chocolate e essa insistência para eu aceitar ir no baile de máscaras que acontecia anualmente e era o maior evento em nossa cidade. - Ai, Mel, como é que pode eu não conseguir dizer não pra você? Está bem, eu vou! Eu concordei em ir ao baile, mas eu ainda não tinha certeza. De qualquer forma eu iria dormir na casa da Mel para fugir do casamento, mas não iria a festa, contudo, Melissa tanto fez que me convenceu a ir pra festa. No sábado nos arrumamos na casa dela. - Quê isso, hein, amiga! Tá gata demais! – Ela me entregou uma máscara dourada, linda, toda trabalhada como se fosse uma renda, que cobria até o nariz e eu a coloquei. Eu usava um vestido de cetim vermelho brilhante e a máscara combinou perfeitamente. – Então, estamos prontas? - Sim estamos prontas. – respondi e peguei minha bolsa. – Ih, esqueci meu perfume. - Não, tem problema, você vai usar o perfume novo da minha mãe. Ela não se importa. Quando o Fernando, namorado da Mel, nos viu sorriu, deu um beijo na Mel e disse: - Garotas, vocês estão lindíssimas! Acho que você vai sair dessa festa com um namorado novo, Cat. - Sem namorado, Nando. Na verdade, eu acho que é melhor eu ficar, eu não estou no clima pra festa. Por favor, Mel, deixa eu ficar?As horas foram se arrastando e, conforme os minutos passavam, minha preocupação se intensificava. Allah! Eu deveria ter entrado com ela! Andei de um lado para o outro na sala de espera do hospital. —Said. Jamile é forte. Ficará tudo bem. —Abiá me disse com Bashir no colo. As lembranças do meu passado eram fortes demais. Desviei meus olhos dela. Bashir estava lá, me dizendo que tudo podia dar errado. Suando frio, derrubando lágrimas, morrendo de medo, minhas respirações ficaram cada vez mais profundas. A ansiedade dançando em meus olhos, apesar de todo o meu esforço para me manter calmo. A enfermeira entrou na sala de espera. —Nasceu. Uma linda menina. Mãe e filha passam bem. Trêmulo, eu desabei na cadeira. —Posso vê-la? —Perguntei ansioso. —Sua filha? —Não! Minha esposa. —Por enquanto não. Ela está na sala de recuperação. Só quando ela for para o quarto. Assenti. —E minha filha? P
Jamile O palácio estava cheio. Segundo Said, ele não tinha nenhum parente vivo. Da parte dele, só um amigo chegado viria e a Staff do seu trabalho participariam da festa. Já da minha parte, meus dois tios que viriam acompanhado de suas famílias. Meus pais e minha irmã com seu marido marcariam presença também. Ah, claro, sem contar com Zafir que também compareceria à cerimônia. O espetáculo estava armado. Só que dessa vez eu não seria motivo de riso. O ritual que levaria três dias faríamos em um dia. Afinal, eu não era mais virgem, era separada e estava grávida. Por mim, nos casaríamos e pronto. Mas Said não pensava assim. Para ele, a festa encerraria um capítulo da minha vida de humilhações. Mostraria a todos o meu valor. Segundo ele, todos veriam o amor que ele sentia por mim em seus olhos e isso seria um marco em minha vida e na vida de meus familiares. Quando deu uma hora da tarde, eu já estava pronta. Abiá me ajudou com o
JamileTerça-feira, Said acordou cedo e pronto para encarar uma semana cheia de reuniões decisivas para que Sábado nos casássemos. Depois viajaríamos paraGrécia, onde curtiríamos nossa lua-de-mel com Bashir.Eu já tinha vomitado bastante, por isso eu ainda estava deitada vendo-o ajeitar a gravata em frente ao espelho.Said se sentou ao meu lado na cama.—Ficará bem?—Sim.—Hoje, não sairei do escritório. Qualquer coisa, peça para Abiá me ligar.Eu sorri para ele.—Habibi, gravidez não é doença.Said me estudou como os olhos antes de perguntar:—Está feliz?Said me a amava. Era surreal termos o mesmo sentimento. Mas estávamos realmente apaixonados.—Muito. Eu te amo, você me ama. Vamos nos casar. Estou gráv
KhadijaOuvi barulho vindo do corredor da sala e eu fiquei alerta. Naquele momento Zafir entrou na sala. Ao olhá-lo, eu me levantei. Corada. Ele estava extremamente lindo, como sempre. Senti um leve tremor percorrer-me. Me lembrando o jeito como tinha me pegado firme antes de sair para trabalhar, aquele corpo musculoso contra o meu, o seu beijo delicioso que me deixou de pernas bambas... Senti o desejo me varrer por dentro, denso e quente, quando imaginei como ficaria nua nos braços dele. Não era hora de pensar nisso! Afastei aqueles pensamentos. Eu estava o esperando para lhe contar tudo que ouvi de Tereza.Zafir aproximou-se de mim com olhar direto e eu me levantei, e o encarei séria.—O que foi, Khadija? Você nunca me espera aqui? Os gêmeos estão bem?—Ele me perguntou aflito.Eu o cortei com um beijo. Sua pasta caiu no chão. Pressionei meus lábios cont
KhadijaParei na porta do quarto dos bebês e espreitei para dentro para ver se estava tudo bem. A babá lia um livro numa poltrona ao lado dos dois berços. Ela sorriu para mim, acenando um tudo bem.Sorri para ela e fui resolver outro assunto, comer alguma coisa, pois meu estômago estava roncando de fome.—Eu colocava um anticoncepcional no suco dela, todo santo dia.Arrepiei da cabeça até os pés e estaquei na entrada da cozinha quando ouvi a conversa das duas empregadas. Ela colocou a assadeira no forno e definiu o timer.—Você fez isso com aquela bruxa?—Sim, por que você acha que ela não engravidava?Elas riram.Senti um aperto no estômago. Voltei a respirar fundo e tentei acalmar os meus pensamentos caóticos. Entrei na cozinha. As duas se assustaram quando me viram.—Eu ouvi toda
Duas semanas se passaram... Eu continuei minha jornada. Aquele jogo de gato e rato ia continuar indefinidamente e eu odiava isso tudo, mas dentro de mim uma voz me dizia que eu estava fazendo a coisa certa. Eu não tinha um maldito plano. Nem sei se a dura que eu estava dando nele iria adiantar. Mas era a única arma que eu tinha. Evitando o tempo todo Said, eu me privava de um desejo que exigia ser satisfeito. Às vezes topava com ele na casa. Ele estava sempre lindo. Dependendo do dia ele usava um Kandoora branco, mas a maioria das vezes, ele estava de terno. Quando eu via o semblante triste de Said, eu chegava a pensar que estava sendo muito radical com ele. Ficava me martirizando, pensando muito nisso. Mas então, me vinha meu outro eu. A sensação de puro déjà vu me dizendo que ele não me valorizava. Só de pensar nisso, a raiva começava a inundar-me. De qualquer forma, meu coração doía. E eu me perguntava: como podia doer tanto? Eu me incomodava com o jeito f
Último capítulo