Início / Romance / Livro 1 - NOTAS DO DESTINO / CAPÍTULO 3 - SEGREDOS AO LUAR
CAPÍTULO 3 - SEGREDOS AO LUAR

 Isabella se deteve na porta, hipnotizada.

— Você canta... — disse, baixinho, sem conseguir segurar a surpresa.

Rafael quase deixou o violão cair.

— Isabella! Eu... eu não queria incomodar. Só estava... treinando.

Ela entrou, os pés descalços tocando o chão de terra batida.

— Incomodar? Foi lindo. Por que nunca falou que cantava?

Ele baixou o olhar, um pouco envergonhado.

— Porque não vim aqui para isso. Vim para trabalhar. Preciso provar que sou capaz... e não quero que seu avô pense que estou distraído.

Isabella sentiu o coração apertar.

— Você tem um sonho, não é?

Rafael respirou fundo antes de responder:

— Quero ser cantor. A música é a única coisa que sempre fez sentido pra mim. Mas sei que parece... impossível.

O silêncio pairou por um instante, quebrado apenas pelo coaxar dos sapos no brejo.

Isabella sorriu, sincera:

— Talvez impossível seja só outra palavra para "difícil".

Antes que pudesse dizer mais, a voz firme de Seu Anselmo ecoou atrás deles:

— Difícil é achar tempo para sonhar quando se tem trabalho de verdade a fazer.

Rafael se virou, surpreso e envergonhado.

O velho observava os dois com um olhar severo, apoiado na bengala.

— Se veio até aqui para brincar de música, melhor voltar para a cidade. — A voz do avô soou dura, como um veredito.

Isabella, instintivamente, se colocou entre os dois.

— Vovô, não é assim. Ele trabalha de verdade. Só... tem talento.

Seu Anselmo apertou os lábios, sem responder, e voltou lentamente para casa, deixando no ar um peso que pairou sobre os dois.

Rafael guardou o violão com as mãos trêmulas.

— Eu não queria arrumar problema...

Isabella olhou para ele, firme.

— Você não é problema, Rafael. Só precisa provar que pode ser os dois: trabalhador... e sonhador.

Naquele instante, o vínculo entre eles se fortaleceu ainda mais. Mas também cresceu a sombra da dúvida: até onde seria possível conciliar a vida simples da fazenda com a imensidão dos sonhos?

O sol da manhã mal havia despontado quando Seu Anselmo já estava no curral, apoiado na bengala e observando Rafael com olhos atentos. O rapaz lutava para carregar baldes de ração, o suor escorrendo pela testa.

— Mais firme, rapaz. — resmungou o avô — Aqui não tem palco, nem aplauso. Tem trabalho.

Rafael respirou fundo, tentando manter o tom respeitoso.

— Eu sei, senhor. E estou disposto a aprender.

Seu Anselmo estreitou os olhos.

— Disposto? Até agora só vi um jovem com mais jeito para sonhar do que para arregaçar as mangas.

Isabella, que se aproximava com uma cesta de ovos, ouviu a provocação.

— Vovô, isso não é justo. Ele está se esforçando.

O velho virou-se para ela, firme:

— Esforço sem resultado é só perda de tempo, Isabella. E nesta fazenda, tempo é coisa que não sobra.

Rafael segurou o balde com força, como se as palavras pesassem mais que o trabalho.

— Eu não vim aqui para brincar, senhor. Sei que não tenho experiência, mas vou provar que posso ser útil.

Seu Anselmo deu uma risada seca.

— Útil? O campo não precisa de sonhos, rapaz. Precisa de braços fortes e gente que saiba o que faz.

O silêncio caiu pesado. Isabella olhou para Rafael, que respirou fundo, tentando controlar a raiva que ameaçava escapar.

— Com todo respeito, Seu Anselmo, eu não vou desistir. — respondeu, firme — Não importa o que pense de mim.

O avô se aproximou, encarando-o nos olhos.

— E eu não vou facilitar sua vida, entendeu? Se quer ficar aqui, vai ter que mostrar que serve para algo mais do que dedilhar cordas no escuro.

Isabella não aguentou e interveio:

— Vovô, isso não é só sobre trabalho. É sobre dar uma chance!

— Chance? — o velho ergueu a voz. — Quantas vezes na vida eu vi gente com "sonhos" largar tudo na primeira dificuldade? Essa terra já me ensinou a desconfiar de promessas.

Rafael fechou os punhos, mas manteve a postura.

— Então me dê tempo. Eu não quero nada fácil.

Seu Anselmo fitou-o por mais alguns segundos e depois virou-se, caminhando de volta à varanda.

— Tempo é o que menos temos. Vamos ver até onde você aguenta, Rafael.

Continue lendo este livro gratuitamente
Digitalize o código para baixar o App
Explore e leia boas novelas gratuitamente
Acesso gratuito a um vasto número de boas novelas no aplicativo BueNovela. Baixe os livros que você gosta e leia em qualquer lugar e a qualquer hora.
Leia livros gratuitamente no aplicativo
Digitalize o código para ler no App