Mundo de ficçãoIniciar sessãoMais tarde, ao lado das vacas, Rafael tentou imitar os movimentos de Isabella, que mostrava com paciência cada passo. Mesmo sem experiência, ele não desistia. A garota percebeu algo ali: não era só o jeito dele, era o brilho no olhar, a vontade de fazer diferente.
Durante a ordenha, um silêncio confortável tomou conta do lugar, até que Rafael falou, meio tímido: — Nunca imaginei que pudesse gostar de trabalhar no campo. Achei que ia ser mais difícil.Isabella olhou para ele, surpresa.
— A fazenda tem seu próprio ritmo. Quem respeita isso, acaba encontrando um jeito de amar. — respondeu, com um sorriso tímido.Enquanto o sol subia no céu e as sombras encurtavam, a conexão entre eles se fortalecia, invisível, mas real. Quando o dia terminou, Rafael olhou para o violão encostado na parede do celeiro e pensou no sonho que o trouxera até ali. Isabella voltou para a casa, ainda sentindo os olhos dele acompanhando cada movimento seu. O campo nunca mais seria o mesmo.
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O sol ainda nem havia nascido quando o canto insistente do galo ecoou pelo quintal. Rafael, acostumado ao barulho da cidade, demorou a se acostumar com aquele chamado da natureza. Espreguiçou-se no pequeno quarto ao lado do celeiro, ajeitou a mochila aos pés da cama e respirou fundo.
— Mais um dia... — murmurou para si, lembrando do violão guardado, que quase pedira para levar consigo ao trabalho.Lá fora, Isabella já caminhava pelo terreiro com o cabelo preso em uma trança simples, segurando um balde. A brisa fria da manhã trazia cheiro de café recém passado, vindo da cozinha.
Rafael apressou o passo para alcançá-la.— Bom dia! — disse, meio ofegante.
— Bom dia! — ela respondeu, com um sorriso discreto. — Está pronto para acordar mais cedo que as galinhas? — Se eu sobrevivi ao meu primeiro dia, acho que consigo ao segundo. — riu, tentando disfarçar o cansaço.Isabella balançou a cabeça, divertida.
— A fazenda não tem dó de quem chega. Mas também recompensa quem aprende a ouvir a terra.Antes que pudessem continuar, Seu Anselmo surgiu apoiado na bengala, o olhar atento sobre os dois.
— Menos conversa e mais trabalho. — resmungou. — Rafael, hoje vai aprender a conduzir os cavalos até o pasto. Não quero moleza.
O rapaz engoliu em seco. Animais grandes não estavam no seu repertório.Isabella percebeu o receio nos olhos dele e se aproximou, baixando a voz:
— Não se preocupe. Eles sentem quando a gente tem medo, mas se você confiar, eles obedecem.Rafael assentiu, seguindo as instruções. O primeiro contato foi desajeitado, mas aos poucos, com Isabella ao lado, ele conseguiu conduzir o cavalo sem que o animal se assustasse. O coração batia forte — não só pela experiência, mas pela proximidade dela.
Mais tarde, enquanto ajudavam a recolher lenha, Rafael não conteve a curiosidade: — Isa, você nunca pensou em sair daqui? Ela parou por um instante, olhando para a imensidão dos campos dourados pelo sol da manhã. — Já pensei, sim... mas essa terra é tudo o que tenho. É onde meu avô precisa de mim. — deu de ombros. — A cidade nunca me chamou.Ele, em silêncio, sentiu a contradição dentro de si. O campo lhe trazia paz, mas a música... era sua vida.
Naquela noite, sozinho no quarto, Rafael tirou o violão do estojo e dedilhou algumas notas baixinho, para não incomodar. As palavras surgiram quase sem pensar, inspiradas no olhar sereno de Isabella e na força da fazenda que começava a conquistar seu coração. Ele sabia que estava diante de algo que poderia mudar seu destino.A lua iluminava os campos como um farol prateado. A fazenda dormia em silêncio, quebrado apenas pelo som distante dos grilos. Isabella se levantou no meio da noite para buscar água e, ao passar pelo celeiro, ouviu algo diferente. Uma melodia suave escapava pelas frestas da madeira.
Curiosa, ela se aproximou devagar. Lá dentro, Rafael dedilhava o violão com os olhos fechados, a voz baixa preenchendo o espaço vazio. A música não era perfeita, mas tinha alma.






