A tempestade havia passado, mas a fazenda parecia ainda mergulhada em sua ressaca. O ar úmido trazia o cheiro da terra revirada, e cada passo no chão de barro lembrava o peso do que havia acontecido no dia anterior. Ninguém falava sobre a briga. Mas todos sabiam.
Seu Anselmo estava mais calado do que o habitual. O olhar que antes trazia orgulho quando via Rafael trabalhar agora era distante, medido, como o de quem observa um animal bravo e tenta entender se ainda pode confiar.
Isabella evitava o rapaz. Passava por ele com um aceno breve, o rosto sempre voltado para outra direção. Quando falavam, era apenas o necessário: “Passa a corda”, “Fecha o portão”, “Cuidado com o bezerro”. As palavras haviam se tornado frias, mecânicas, sem o calor que antes enchia o ar entre eles.
Rafael sentia aquilo como farpas invisíveis. Trabalhar ao lado dela e não poder falar o que queria — nem pedir desculpas, nem explicar — doía mais que o soco que ele havia segurado diante de Álvaro.
Naquela manhã,