Narrado por Zalea Baranov
Eu ainda não havia voltado.
Meu corpo, talvez, estivesse ali. Mas minha alma flutuava entre mundos — entre o que eu fui e o que quase deixei de ser.
Era como dormir dentro da própria morte, como repousar num abismo em que o tempo não existia. Mas havia vozes. Vozes distantes como orações em ruínas, como sussurros feitos dentro de igrejas desertas.
Leonid.
A sua voz foi a primeira a furar o véu do esquecimento.
— Ela vai ficar bem… ela vai… por favor…
Ele chorava. E Leonid nunca chorava. Seu pranto não era um soluço, era um grito mudo, um vendaval contido em punhos fechados. Eu o ouvia pressionando o mundo inteiro para me manter viva.
— Salve ela, salve ela, pelo amor de Deus, faça qualquer coisa. — sua voz arranhava as paredes do meu subconsciente.
E então… a palavra que me partiu: bebê.
— E o bebê? Ela estava com dores… ela caiu… ela estava sangrando… por favor, salvem os dois.
Havia um filho? Uma faísca de vida em mim?
A lembrança do porão voltou como açoi