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Capítulo 2 – Canções que Machucam

— Você tem uma voz perigosa.

Lia não costumava dizer o que pensava. Mas com aquele estranho de voz de veludo e olhos que pareciam enxergar além da pele, as palavras escaparam antes que pudesse impedi-las.

Etan sorriu, ainda com os dedos sobre as cordas do violão. Era um sorriso tímido, quase envergonhado — e, por isso mesmo, ainda mais encantador.

— Nunca ouvi isso antes — disse ele. — Normalmente dizem que tenho uma "voz bonita", ou "melancólica"... mas perigosa?

— É o tipo de voz que poderia fazer alguém esquecer quem é — Lia respondeu, sentando-se num banco próximo. — Ou lembrar demais.

Ele abaixou os olhos, como se sentisse o peso oculto daquelas palavras. Como se, por instinto, compreendesse que aquela garota dourada não era só mais uma entre a multidão.

— Sou Etan — disse ele, enfim. — Etan Kingsley. E você?

Ela hesitou. Nomes tinham poder, especialmente entre os lycans. Mas algo nela queria entregar a verdade. Queria ser vista. Ou, talvez, apenas... sentida.

— Lia. Lia Ashford.

Etan assentiu lentamente, como se estivesse gravando aquele nome na alma.

O silêncio entre eles não foi constrangedor. Era um tipo de quietude confortável, como se o mundo tivesse diminuído o volume para que os dois pudessem respirar um no outro.

— Você canta aqui sempre? — Lia perguntou, desviando o olhar para o violão.

— Quase todo dia. Faço alguns freelas também, mas é aqui que me sinto mais... vivo. — Ele deu de ombros. — A vida não é exatamente fácil pra um cantor de rua.

— Mas você continua cantando mesmo assim.

— É. Porque às vezes, quando as palavras não bastam, a música é a única coisa que não mente.

Lia sentiu a pele arrepiar. As palavras dele atravessavam como lâminas gentis. E ao mesmo tempo, sua cabeça gritava para que se afastasse. Que não criasse laços. Que não envolvesse um humano naquele mundo.

— O que foi? — ele perguntou, inclinando levemente a cabeça. — Você ficou séria de repente.

Ela respirou fundo. Era melhor ir embora. Cortar aquilo pela raiz. Mas quando tentou se levantar, ele falou de novo:

— Não quero parecer invasivo, mas... seus olhos. Eles são... lindos. Nunca vi nada assim.

— São um acidente genético — ela respondeu rápido, querendo encerrar o assunto. Mas Etan não se afastou. Não zombou. Nem usou aquilo como charme. Ele apenas sorriu, genuinamente.

— Às vezes os acidentes criam as coisas mais bonitas.

Lia sentiu algo dentro de si ceder. Como se uma muralha começasse a rachar.

E foi então que um som cortou o ar: um uivo distante. Fraco, mas inconfundível. Lia endureceu na hora.

— Está tudo bem? — Etan perguntou, olhando ao redor.

— Sim — ela respondeu rápido, levantando-se. — Eu... preciso ir.

— Posso ver você de novo?

Ela hesitou. Tudo em sua vida gritava que aquilo era errado. Mas havia algo em Etan. Algo que a puxava. Algo que cantava mais alto que o sangue.

— Talvez.

E então ela se virou e desapareceu entre as árvores da praça.

Etan olhou para o lugar onde ela esteve segundos antes e tocou uma nova melodia. Algo suave, quase triste. Uma música que nem ele sabia que sabia. Algo antigo. Instintivo.

Como se os próprios lobos tivessem soprado a melodia para seus dedos.

E, ali, sob a luz dourada da tarde e o perfume das flores do outono, uma ligação invisível havia sido criada — algo que nem o tempo, nem a lua, conseguiriam apagar.

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