O relógio no canto da parede marcava 21h12. O prédio da Constellation Global, normalmente pulsante durante o dia, agora repousava num silêncio espesso, interrompido apenas pelo zumbido baixo do ar-condicionado e os passos ritmados de Isabela pelo lounge executivo.

Ela terminara seu turno de limpeza no 15º andar, onde polira mesas de vidro, recolhera copos esquecidos, reorganizara almofadas desalinhadas — como fazia todas as noites. Mas naquela quinta-feira, algo estava diferente. O jornal interno já começava a ser diagramado, e sua primeira proposta de pauta fora aceita. O texto ainda estava em processo, mas o simples fato de estar sendo escrita por ela — uma funcionária da limpeza — criava um redemoinho interno difícil de descrever.

Ao passar pelo espelho elegante na parede ao fundo do lounge, Isabela parou. Aquela moldura dourada, reluzente mesmo sob a iluminação suave, envolvia mais do que sua imagem: refletia as camadas que ela costumava ignorar.

Aproximou-se devagar, os olhos