O restaurante escolhido pela minha mãe era o tipo de lugar que parecia ter parado no tempo. Mesas cobertas com toalhas de linho branco impecáveis, taças de cristal que refletiam a luz natural que entrava pelas janelas gigantescas, e garçons treinados para serem invisíveis. Um refúgio da elite paulistana. Um teatro onde as aparências sempre falaram mais alto que as emoções.
Ela já estava sentada quando cheguei. Elegante como sempre, com um blazer azul-marinho perfeitamente alinhado, pérolas discretas nos lóbulos das orelhas e os cabelos presos num coque impecável. Minha mãe era a imagem do controle. E também da cobrança.
— Está atrasada — ela comentou, sem sequer erguer os olhos do cardápio.
— Boa tarde, mãe. Que bom te ver também — respondi, sentando-me à sua frente com um leve sorriso irônico.
Ela levantou os olhos e me encarou por alguns segundos, antes de fechar o cardápio.
— Você está magra. Tem comido?
— Comido, dormido, lutado batalhas corporativas e vencido uma guerra ou duas.