O quarto estava mergulhado em penumbra, o som do monitor cardíaco de Vitória era a melodia que preenchia o espaço. Cada batida, ritmada e segura, me lembrava que ela estava ali. Viva. Forte. Real. Como se fosse um milagre. E talvez fosse. Um milagre forjado no meio do caos, no calor da guerra, no fundo de um amor que nunca soubemos nomear direito, mas que nos unia como ferro fundido sob pressão.

Minhas mãos tremiam, não de medo, mas da intensidade do momento. A guerra parecia ter recuado por algumas horas, como se até ela reconhecesse que ali, naquele quarto, algo sagrado havia acontecido. A vida tinha vencido.

Vitória dormia no berço transparente ao lado da minha cama. Pequena, embrulhada num cobertor branco, com o rosto sereno como se não tivesse nascido entre tiros e explosões. Como se o mundo não estivesse esperando para desafiá-la.

Eu me permiti observá-la por longos minutos, com os olhos marejados, sentindo algo que ainda não sabia como nomear. Amor,