A estrada até Ravena parecia um corte no tempo. Cada quilômetro me afastava de tudo o que construí como mulher, esposa, matriarca. E ao mesmo tempo, me aproximava da menina esquecida em algum canto da minha memória. A menina que não sabia por que chorava no escuro, por que dormia em quartos que não pareciam seus, por que olhava para rostos sorridentes e se sentia sozinha.
Cheguei ao convento de San Biagio antes do pôr do sol. O céu estava tingido de âmbar, como se o dia também carregasse o peso do que viria. A fachada simples da construção escondia um mundo antigo. As paredes de pedra, cobertas por trepadeiras, pareciam sussurrar orações esquecidas.Uma freira me recebeu sem muitas palavras. Apenas me olhou como quem reconhece uma dor antiga e me conduziu por corredores frios até um quarto no fim do claustro. O silêncio era espesso. Quando a porta se abriu, o cheiro de lavanda e tempo preenchia o ar. E lá estava ela.Sentada na cama, o véu branco cobrindo