Narrado por Dmitri Volkov
Moscou respirava neve naquele fim de tarde. O céu era um cinza sujo, e o vento cortava as ruas como navalhas invisíveis. Estacionei do outro lado da avenida, diante dos portões do Instituto Orfeu. Mikhail desligou o motor, mas não apagou os faróis. Eu queria enxergar cada detalhe.
O sino tocou, e a porta de ferro se abriu. Um mar de estudantes se espalhou pelas calçadas, gargalhando, empurrando-se, correndo para os ônibus. O barulho era irritante, mas logo se diluiu em grupos menores. Eu permaneci imóvel, a mão direita tamborilando contra o joelho, aguardando o único rosto que importava.
E então, ela apareceu.
Anya Petrova.
As fotos não faziam justiça. Ao vivo, havia nela uma aura que misturava fragilidade e força de forma estranha. Carregava uma pilha de cadernos apertados contra o peito, o cabelo preso de qualquer jeito, algumas mechas soltas caindo sobre o rosto. O sobretudo era simples, gasto. Ela parecia uma mulher que se agarrava ao pouco que tinha, e a