— Estás a ir longe demais. Quem tu pensas que és? — Fátima perguntou, a voz irritada.
O homem virou-se para ela, surpreso com a firmeza em sua postura perante ele. Havia dor nos olhos dele — uma dor crua, como se só agora compreendesse que a estava perdendo de verdade. Mesmo assim, no seu habitual descaramento, deu um passo à frente. Inclinou-se, os lábios perigosamente próximos dos dela.
Fátima não recuou de medo. Seus instintos quase a traíram. O magnetismo entre os dois a puxava como um imã. Ela se inclinou, inconscientemente... e parou a um fio de distância. Se deteve logo que apercebeu.
— Não preciso pensar. Eu sou o teu marido — disse ele, firme, convicto.
—Fátima — repetiu, como uma oração. O calor que emanava dele parecia queimar o ar ao redor. Sua possessividade, por algum motivo, não a ofendia. Tocava uma parte esquecida dela; uma parte que queria pertencer a alguém, mesmo que não pudesse admitir isso. Mas iris ela algum dia aceitar isso?
Nunca!
Não a Fátima certinha. Ainda mais casada com... um gigolô.
— Um marido contratado — ela o lembrou, seca.
Elias sorriu — não o sorriso de sempre. Foi sem graça, cansado. Pela primeira vez desde que o conhecia, ela viu a fachada cair. Ele parecia... derrotado. Algo que tentava fazer desde o primeiro minuto que se conheceram naquela praça, e nunca logrou.
Fátima sentiu o golpe. Mas não da maneira que esperava.
Doía nela também.
— És tu? — Elias perguntou, com a voz embargada de dor. — És tu quem dormiu nos meus braços e me pediu para nunca mais partir? A mesma mulher que entra por aquela porta, se lança em mim e diz que não sabe o que seria da vida sem mim?
Os olhos dele se encheram de lágrimas. Os dela, também.
— Tu mentes assim tão bem? Como esperas que um homem resista às palavras que me disseste... à forma como te entregaste?
Fátima lutou para manter a voz firme.
— Na cama, dizemos qualquer coisa. Isso não muda o facto de que este casamento tem de acabar quando o termo chegar.
Elias bufou, incrédulo. Depois de um silêncio cortante, ergueu o rosto com o semblante endurecido.
— Para isso, vais ter de me arrastar ao tribunal... ou ao inferno, Fátima.
Fez uma pausa.
— Mas não irei entregar-te de bandeja para aquele homem. Nunca.
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Isenção de Responsabilidade
Halalá é uma prática que muitos dizem pertencer a religião muçulmana, mas que não tem base na sharia, por isso é refutada, mesmo assim praticada por muitos. Esta prática é aplicada, quando uma mulher é divorciada três vezes pelo mesmo marido.
No Islã, o divórcio pode acontecer de duas formas: o homem pode dizer à mulher que a divorcia, tornando o divórcio instantâneo, ou a mulher pode levar o caso ao tribunal, onde o divórcio será analisado e concedido. Após o pedido de divórcio, há um período chamado Iddah, durante o qual a mulher deve permanecer sob a tutela do marido por três ciclos menstruais, ou seja, três meses sem sair do seu lar. Se, nesse período, eles se reconciliam, o processo de divórcio é cancelado.
No entanto, se o homem divorciar-se da esposa mais duas vezes, totalizando três divórcios, eles não poderão reatar a relação, a menos que ela se case novamente e que esse novo esposo, por sua própria vontade, venha a se divorciar dela. Ela pode então voltar para o seu antigo marido. Mas as pessoas têm feito disto um negócio, e tem sido um dilema na comunidade islâmica.
Há que tomar em conta que culturas influenciam muito a forma como muçulmanos practicam a religião a volta do mundo. Existem muitas diferenças de interpretação e legislação em varias partes do mundo. E em alguns países de maioria muçulmana, o Halalá é visto como um crime punivel por lei. Isso não desmotiva as pessoas a procurarem formas clandestinas de fazer esta practica, particularmente quando as pessoas dizem estar apaixonadas, fazem qualquer coisa. E como consequencia, várias mulheres são exploradas sexualmente e extorquidas dinheiro em nome da religião. Pois, neste mundo, é muito facil explorar a ingenuidade alheia.
Este livro não pretende ser um reflexo do Islã ou uma lição sobre o islã; trata-se de uma crítica e também de um alerta, usando um exemplo fictício. Os muçulmanos vêm de diferentes países e origens e, para a maioria, a vida religiosa é profundamente influenciada pela sua própria cultura. Criminosos, abusadores, burladores, etc existem em qualquer sociedade, independentemente de religião, e a ação de açguns não representa a maioria.
Este livro não tem a intenção de ofender ninguém em particular nem de representar qualquer cultura específica. Também não tem o propósito de justificar ou incentivar a violência, o suicídio, etc. Se estes temas são algo sensível para si, pode sempre ler algo mais leve na plataforma. Cuide de sua saúde mental em primeiro.
Por favor, se você está sofrendo qualquer tipo de violência por parte do seu parceiro ou familiares, busque ajuda junto à polícia local e converse com pessoas próximas sobre suas dificuldades. Procure terapia. Nada justifica a violência.