Jamile trabalhou muitos anos como dançarina antes de conhecer o marido.

Sofreu demais por isso.

Era vista como vulgar, julgada, apontada, como se fosse menos mulher porque dançava mostrando o ventre.

As pessoas nunca entenderam que ela fazia aquilo por necessidade, não por escolha.

Na época, a Jordânia estava em guerra.

E numa guerra… ou você dança como odalisca, ou você passa fome.

Jamile tinha vinte e cinco anos quando conheceu John Finn, numa festa do consulado inglês.

Ele estava visitando o país por causa do irmão que trabalhava lá.

Aquilo mudou a vida dela para sempre.

Ela tinha trinta e cinco quando me adotou.

Já vivia na Inglaterra havia quinze anos.

E, segundo ela, eu fui o sonho que ela nunca pôde gerar.

Jamile não podia ter filhos.

E mesmo assim me amou como se eu fosse sangue do sangue dela.

Graças a ela, eu tive uma infância feliz.

A gente não tinha muito — às vezes, quase nada —, mas na nossa casa sempre houve amor, música e alegria.

Jamile tinha um jeito de iluminar o am