CAMILA

Estou no banheiro da fábrica Metalfio, finalmente.

Lavo as mãos e o rosto, e a água fria me desperta um pouco. É sexta-feira, meu turno acabou, e sinto cada músculo do meu corpo reclamar.

Passo o dia inteiro em pé, manuseando chicotes elétricos e prensando conectores. Minhas costas queimam, meus dedos doem, e às vezes me pergunto por quanto tempo ainda aguento esse ritmo.

Saio às cinco da tarde, mas acordo antes das cinco da manhã todos os dias.

O único ponto positivo da Metalfio é que fica a dez minutos de casa.

E por “casa”, eu quero dizer minha quitinete — pequena, abafada, com um banheiro do tamanho de um armário.

Mas é o que eu tenho.

E sou grata.

Jamais ouso reclamar. Já vivi coisas piores.

Suspiro profundamente enquanto me olho no espelho.

Eu preciso continuar firme.

Tenho dívidas antigas da doença de Jamile para pagar, e meu salário mal cobre as contas básicas.

Por isso danço.

A dança do ventre é a única coisa bonita que ainda carrego comigo… e que também me sustenta, de certa
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