MIA
A casa dos Sartori parecia prender a respiração à medida que a noite caía. Cada sombra que se alongava nos corredores era como um sussurro não dito. Um presságio. Não era o silêncio da paz — era o tipo de silêncio que precede uma tormenta. Ou um toque. Ou um crime.
Cecília me avisou do jantar com olhos que não ousavam encontrar os meus. Deixou o vestido sobre a cama como quem deixa uma oferenda a uma criatura selvagem. Era preto. De cetim. Justo, decotado e indecentemente elegante. Aquilo não era um traje — era um aviso. Um convite. Um golpe.
Ele escolhera.
E eu sabia disso. Como também sabia que, naquela casa, nada escapava dos dedos frios e calculados de Tomasio Sartori.
Vesti o vestido como quem veste um pecado. O tecido deslizava pela pele