Vittorio Moretti não era o mocinho dos contos de fadas. Ele não era gentil, muito menos alguém que oferecia carinho sem uma segunda intenção. Para Vittorio, as mulheres tinham um único propósito, e certamente não era o de conquistar seu coração. Criado para ser um soldado leal e implacável, Vittorio se tornou o caporegime mais temido da Cosa Nostra ao matar seu próprio pai, provando sua lealdade ao Don e consolidando seu poder. Seu nome passou a ser sussurrado com respeito e medo, e ninguém ousava desafiá-lo. Mas tudo muda quando, em um negócio perigoso, ele aceita a filha de um viciado como pagamento de uma dívida. Mia não era apenas a filha de um homem fraco — ela carregava um segredo que poderia abalar toda a máfia. Mia jamais imaginou ser arrastada para o mundo cruel de Vittorio, mas sua força e determinação logo mostram que ela não era apenas mais uma vítima. Tentando escapar de uma vida que não escolheu, ela descobre que, por trás da fachada impenetrável de Vittorio, há uma fera tão ferida quanto ela. Conforme os dois se aproximam, o desejo entre eles se torna uma força incontrolável, e Vittorio, acostumado a dominar, se vê perdendo o controle pela primeira vez. Enquanto os rivais dentro da máfia tentam usar Mia como uma arma contra ele, Vittorio precisará decidir se ceder ao sentimento por ela será sua maior fraqueza — ou sua única salvação. Entre segredos de família, traições e uma guerra iminente, será que Vittorio conseguirá manter seu poder? Ou será que Mia, com seu passado inesperado, acabará sendo a sua ruína?
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Como capo da Cosa Nostra, minha tarefa era simples: cobrar dívidas de drogas, viciados em jogos e prostitutas. E hoje, eu estava no meu escritório, aguardando que meus homens trouxessem mais um desses fracassados: Charles Foster, o tipo de pessoa que me enojava. Viciado em jogos, sem um pingo de autocontrole. E, claro, devia uma boa quantia para a Cosa Nostra.
Na Família, eu era conhecido como o Diabo. Minha regra era clara: ninguém deixava de pagar os italianos. E ninguém ousava desafiar essa regra.
Eu não permitia que dívidas ficassem pendentes no meu território. Por isso, sempre fazia questão de resolver isso pessoalmente. Eu me encontrava com os devedores no meu escritório, um lugar aconchegante e bem iluminado, localizado no andar de cima de um prédio que abrigava nossos jogos ilegais. A polícia? Eles sabiam, mas fingiam que não viam. Ainda assim, eu sabia que havia muitos esperando minha queda. Um erro, um deslize, e minha cabeça estaria na mira.
Verifiquei o relógio Bulova no meu pulso e suspirei, impaciente.
— Vittorio, eles devem chegar a qualquer momento — Giuseppe murmurou, sem desviar os olhos do celular. Ele era meu braço direito, meu irmão na máfia e a única pessoa em quem eu confiava.
— Você sabe que não suporto atrasos — respondi, irritado.
O encontro com Charles estava marcado para às quatro da tarde, mas já passavam vinte minutos do horário combinado. Eu nunca fui um homem conhecido por ser paciente, muito menos alguém que aceitasse esperar por vermes como Charles. Meu tempo era precioso, e aquele atraso estava testando meus limites.
Fechei os punhos, tentando manter a calma, até que finalmente a porta se abriu. Meus olhos caíram em Charles, o devedor. Ele era a personificação da decadência: uma barba desgrenhada dominava seu maxilar, enquanto olheiras profundas revelavam incontáveis noites mal dormidas. A pele brilhava de oleosidade, resultado de dias enterrado nos nossos cassinos, sem se importar o suficiente para tomar um banho. E, como se não bastasse, ostentava uma barriga flácida, sem sequer tentar disfarçar sua completa falta de autocuidado.
Um miserável em todos os sentidos.
No entanto, algo desviou minha atenção: uma jovem ao lado de Charles. Devia ter seus vinte e poucos anos. Por um momento, tentei recordar se Giuseppe havia mencionado que ele traria uma mulher, mas minha mente estava em branco. Cruzei os braços, descontente. Eu odiava conduzir negócios com mulheres por perto. Elas sempre falavam demais, tornavam tudo mais complicado, e para mim, a única utilidade de uma mulher estava entre quatro paredes — e só.
Observei a garota ao lado de Charles. Seus longos cabelos negros, presos em uma trança apertada, caíam pelas costas como um manto sombrio. Os olhos, de um azul profundo como o oceano, revelavam o desconforto óbvio de estar ali. Em outra situação, talvez eu a considerasse atraente — quem sabe até oferecesse uma boa quantia para vê-la desfilar aquele corpo no meu clube. Mas, naquela circunstância, ficou claro que ela seria um enorme problema para a pouca paz de espírito que me restava.
Quando percebeu meu olhar sobre ela, a garota franziu os olhos e ergueu o queixo em desafio, como se ousasse me encarar e questionar a própria presença ali.
— Achei que tivesse chamado apenas Charles. Quem é ela, Benicio? — perguntei a um dos meus homens que os havia trazido.
Antes que meu soldado pudesse responder, a jovem deu um passo à frente, encarando-me com seus olhos azuis penetrantes.
— Mia Foster — ela disse, estendendo a mão em um cumprimento que eu, deliberadamente, ignorei. Continuei de braços cruzados, desdenhando daquela garota insolente.
— Por que essa menina acha que pode falar comigo? — resmunguei, ainda com o olhar fixo nela.
Mia soltou uma risada seca, sem qualquer traço de humor.
— Você não é nenhuma celebridade, então não espere que eu tolere ser tratada como se fosse invisível — retrucou, firme.
Um sorriso cruel se formou nos meus lábios.
— Talvez eu não seja uma celebridade, mas você claramente não faz ideia de quem está na sua frente, não é?
Mia franziu a testa com desdém.
— Nunca vi mais feio — respondeu, sem hesitar.
Levantei uma sobrancelha, intrigado com sua ousadia.
— Pois bem, vai descobrir agora. Sou o diabo, e a partir de hoje, você nunca mais terá paz.
Notei um leve engolir seco. Um pequeno movimento em sua garganta, uma fração de segundo de medo. Perfeito, era assim que eu gostava. Mas, para o meu total desgosto, a garota atrevida soltou uma gargalhada alta e debochada, como se minhas palavras não fossem nada além de uma piada absurda. Ela ria na minha cara, desafiando cada centímetro da minha paciência.
Quem aquela tolinha pensava ser?
A risada dela ecoava pelo escritório, como uma afronta descarada à minha autoridade. Aquilo não ficaria impune. Um brilho de raiva se acendeu em mim, mas controlei a explosão que ameaçava escapar. Deixaria claro que ela havia acabado de selar o próprio destino.
— Está rindo de mim? — questionei, estreitando os olhos.
Mia sorriu com sarcasmo.
— Geralmente as pessoas riem quando ouvem uma piada. Pensei que…
— Você vai se arrepender de rir na minha cara — sussurrei, a interrompendo e me aproximando dela.
Mia finalmente parou de rir, mas não desviou o olhar. Havia fogo nos seus olhos, algo que só aumentava minha vontade de esmagá-la. Eu gostava de mulheres quebradas, obedientes. E eu sabia exatamente como transformar essa garota idiota em uma delas.
— A partir de hoje, Mia Foster, você vai entender o verdadeiro significado de inferno.
— Eu não tenho medo de você — ela disse, firme.
Ótimo, eu estava determinado a fazê-la me temer.
A risada de Fiamma ecoava pela mesa, cheia de calor, enquanto ela contava mais uma das suas histórias hilárias sobre a infância de Guillermo, meu pai. Em alguns momentos, eu via a saudade brilhar nos olhos dela, a mesma saudade que cintilava nos olhos de meu avô Maurício.A luz suave das velas no centro da mesa lançava sombras dançantes sobre as paredes da mansão, e o aroma da comida caseira, algo que eu não sabia que sentia tanta falta, preenchia o ar. Aurora estava ao meu lado, brincando com Giuseppe, meu filho com Vittorio. Meu avô nos observava com um sorriso tranquilo, como se o mundo inteiro tivesse finalmente encontrado o seu equilíbrio.— Giuseppe é a coisa mais linda, não é, meu amor? — Aurora disse para o pequeno nos meus braços, apertando
MIAO calor era insuportável.O fogo corria pelas paredes como serpentes vivas, famintas, reduzindo tudo a cinzas.Os retratos, as tapeçarias, os móveis antigos — toda a história daquela mansão amaldiçoada era devorada diante dos nossos olhos.Vittorio puxava minha mão com força, abrindo caminho entre os destroços, enquanto o teto rangia ameaçadoramente acima de nós.A fumaça nos envolvia como um manto sufocante, tornando cada respiração uma luta desesperada.— Não solta de mim! — ele gritou por cima do rugido do incêndio.Eu bala
MIAO mundo parecia prestes a me engolir quando a porta explodiu em um estrondo ensurdecedor, como o trovão de uma tempestade furiosa.O impacto reverberou dentro da minha cabeça entorpecida, despedaçando a névoa negra que me arrastava para o abismo.Tomasio se virou, os olhos arregalados por um breve segundo de surpresa — um segundo que foi tudo de que eu precisei. Meu corpo cedeu e desabou no chão de madeira, arranhando os joelhos e os cotovelos enquanto eu arfava, tentando desesperadamente puxar o ar que ele havia esmagado dos meus pulmões.Vi as botas pretas atravessarem o quarto como relâmpagos, pesadas, determinadas.— Solta ela, seu desgraçado! — Vittorio rugiu, a voz
MIAEu corri, o mármore frio e ensanguentado escorregando sob meus pés descalços, o coração batendo tão alto que abafava os tiros e gritos que ecoavam pelos corredores. Cada explosão de arma de fogo parecia empurrar meu corpo para frente, como se o medo cravasse garras na minha espinha e me obrigasse a continuar.O cheiro de pólvora e ferro impregnava o ar, misturado ao aroma ácido de suor e morte. Corpos juncavam o caminho — rostos conhecidos, rostos desconhecidos —, e cada expressão sem vida era um soco que eu não podia me dar o luxo de sentir. Não havia espaço para o luto. Não havia tempo para a dor. Só importava encontrar um lugar... um buraco onde eu pudesse me esconder, respirar, pensar.A mansão, outrora maje
VITTORIOEu vi Tomasio sorrir, um sorriso predatório, como se estivesse se divertindo com a situação. A pistola girava entre seus dedos com a calma de quem já tinha vivido tudo isso antes, e a voz dele, cheia de sarcasmo, cortou o silêncio da noite.— Ora, ora... Achei que viria sozinho, Vittorio. Trouxe amigos para morrer com você?— Onde está a Mia, seu desgraçado? — Perguntei com violência.Tomasio apenas sorriu.Eu senti a presença de Giuseppe à minha frente, se posicionando como um escudo, e Breno surgiu ao meu lado, tenso, mas sem hesitar. Tudo aconteceu tão rápido que meus olhos mal conseguiram acompanhar. Tomasio levantou a mão,
VITTORIOBreno se aproximou rapidamente, com o rosto parcialmente encoberto pela sombra das árvores. Sussurrou enquanto apontava para as torres de vigilância:— Mais homens do que o previsto. E reforços nos pontos cegos.Giuseppe, atento ao movimento dos seguranças, franziu a testa antes de cuspir no chão, o gesto áspero refletindo o desprezo que carregava na voz ao rosnar:— Alguém passou informações para eles. Sabem que estamos aqui.Uma tensão fria percorreu minha espinha. As palavras de Giuseppe ficaram ecoando na minha cabeça, enquanto meu olhar oscilava entre ele e Breno. Ambos aparentavam estar prontos para lutar, os olhos acesos pela fúria, os co
Último capítulo