MIA
Não consigo parar de pensar no meu pai.
A imagem dele jogado no chão do deserto se repete na minha mente como um pesadelo maldito — o corpo inerte, os olhos abertos, o sangue escorrendo pela areia quente como se fosse algo descartável. Como se ele fosse apenas mais um.
Vittorio me garantiu que alguém de confiança cuidaria de tudo, que meu pai teria um enterro digno, longe dos olhos dos abutres. Mas eu não conseguia acreditar.
Não com um traidor entre nós.
Não com Tomasio ainda solto, respirando o mesmo ar que eu, tramando nas sombras como o verme que é.
A voz dele ainda martelava na minha mente, grudada como chiclete velho na sola de um sapato — incômoda, pegajosa, impossível de arrancar. Cada tentativa de afastá-lo só parecia torná-lo mais presente, como um parasita da minha paz.
— Mia, eu realmente sinto muito pelo seu pai — a voz de Vittorio cortou o silêncio como um lençol de seda sobre uma ferida aberta.
Virei o rosto devagar, mas não consegui encará-lo. Continuei olhando pel