Pantera Narrando
Meu nome é Davi, mas ninguém me chama assim. Aqui no morro, todo mundo me conhece como Pantera. Tenho 30 anos e esse apelido não veio à toa. Sempre fui rápido, ágil, calculista. No jogo da vida, quem vacila fica pra trás, e eu nunca fui de perder tempo. Cresci no meio do corre, aprendi a me virar cedo, e quando dei por mim, já tava dominando tudo. Hoje, sou o dono desse morro, e quem pisa aqui sabe muito bem que meu nome não é brincadeira. Minha pele é preta como a noite sem lua, e meus olhos? Dois faróis acesos, puxados pro mel, destacando ainda mais a minha presença. Quem cruza comigo sente a energia antes mesmo de ouvir minha voz. Meu corpo carrega minha história nas tatuagens espalhadas pelo peito, braços e costas. Cada risco tem um significado, cada desenho conta um pedaço da minha caminhada. Não sou só um cara com poder, sou o resultado de cada escolha que fiz. Aqui, respeito se conquista na atitude, e eu não sou de falar muito. Prefiro agir. No meu território, eu mando, eu protejo, eu faço a lei. Mas não me entenda errado, não sou qualquer um que se deixa levar por papo fiado. Conheço gente de todo tipo, e já vi de tudo nessa vida. Mas, essa noite... essa noite eu trombei com alguém que me tirou da zona de conforto. Uma mulher que não abaixou a cabeça, não gaguejou, não tremeu. E, pra ser sincero? Isso só me deixou ainda mais interessado. Eu fiquei ali, encostado na grade do camarote, olhando a movimentação do baile enquanto tragava meu cigarro devagar. O som do funk batia forte no peito, e a galera se jogava na pista como se o mundo fosse acabar amanhã. Mas minha mente tava em outra coisa. A morena. Nunca vi mulher com tanta marra igual aquela. Já trombei várias, de tudo que é jeito, mas nenhuma olhou na minha cara e me botou no lugar do jeito que ela fez. A maioria abaixa a cabeça, j**a um sorrisinho, tenta impressionar. Ela? Me meteu uma patada de primeira, nem pensou duas vezes. E eu, que não sou de levar desaforo, me peguei rindo da ousadia. — Essa aí é diferente... — murmurei pra mim mesmo, soltando a fumaça devagar. Janete. Já tinham me soprado o nome dela. Corpo fechado, postura reta, olhar que não desvia. Tava nítido que ela não era mulher de se impressionar com nome ou status. Vi a amiga dela, Nath, cochichando no ouvido, nervosa. Devia tá explicando quem eu sou. Mas Janete? Nem piscou. Continuou na dela, sem dar moral. Isso só me atiçou mais. No meu mundo, respeito é tudo. Quem respeita, é respeitado. Quem se impõe, ganha moral. E essa mulher não precisa que ninguém passe pano pra ela. Dá pra ver que ela sabe se virar sozinha. Mas será que ela sabe com quem tá lidando? Abaixei a cabeça, sorri de canto. — Vamos ver até onde vai essa pose, morena... — falei baixo, antes de virar meu copo de whisky e jogar o gelo pro lado. Essa noite ainda promete. Tava ali de boa, observando o baile, quando vi Blackout se aproximando. Moleque era meu braço direito, sangue bom, mas falava mais do que a boca. Chegou todo animado, já rindo antes mesmo de abrir a boca. — E aí, chefe... tá ligado na mina que tá com a morena que tu ficou secando? Pô, gata demais, viado! — Ele soltou uma risada, balançando a cabeça. — Cê devia ver de perto, tá ligado? Um perigo. Soltei um riso curto, sem tirar os olhos da pista. — Tá ligado que tu fala demais, né, Black? — Dei um gole no meu copo e olhei pra ele de lado. — Mas me diz aí... qual é a fita dessas duas? Tu conhece? Blackout acendeu um baseado, puxou e soltou a fumaça antes de responder. — Sei que a tal da Nath já rodou por aqui umas vezes, parece que tem um esquema com uns parceiros nossos. Mas a outra, chefe... essa aí é novidade. Janete, se não me engano. Parece que é braba, maluca nenhuma se garante assim na tua frente sem tremer. Inclinei a cabeça, absorvendo a informação. Então o nome dela era Janete. Bonito. Nome forte. Combinava com a marra. — Peguei essa visão. — Falei, lembrando do jeito que ela me olhou. Sem medo, sem deslumbre. Era o tipo de desafio que eu gostava. Blackout riu de novo, balançando a cabeça. — Mas e aí, chefe... vai deixar a morena passar batida? Tá todo mundo vendo que ela chamou tua atenção. Sorri de canto, jogando o copo vazio pro lado. — Relaxa, Black. Quem tem pressa é otário. Essa aí não é do tipo que se ganha na pressa. Eu tinha tempo. E se Janete achava que ia sair dali sem cruzar comigo de novo, tava muito enganada. Fiquei ali de canto, só observando. A pista fervia, geral curtindo, mas meu foco tava na morena. Ela dançava com a amiga, mas não era igual as outras. Não jogava o corpo pra chamar atenção, não olhava pros lados esperando aprovação. Ela só curtia o som, no ritmo dela, na vibe dela. Isso me intrigava. Mulher que não quer ser notada normalmente é a que mais chama atenção. E Janete? Ela era um imã, sem nem se esforçar. Blackout continuava falando alguma coisa do lado, mas eu já nem ouvia. Meu copo vazio girava na minha mão enquanto minha mente trabalhava. Foi quando ela olhou na minha direção. Não foi aquele olhar tímido de quem tá fugindo. Foi direto, reto, sem desvio. Como se quisesse me testar. Dei um sorriso de canto, levando a língua nos dentes. — Tá querendo jogar, né, morena? — murmurei pra mim mesmo. Então, sem pressa, larguei o copo na mesa e comecei a andar. O baile inteiro parecia se abrir no meu caminho. As pessoas sabiam quem eu era, respeitavam meu espaço. Mas naquele momento, eu só queria ver se Janete ia continuar com a mesma marra quando eu chegasse perto. Parei bem na frente dela, mantendo a postura relaxada, mas com aquele peso de quem domina o território. — E aí, morena... tá gostando da festa? — perguntei, a voz baixa, carregada de provocação. Ela ergueu a sobrancelha, como se já tivesse previsto minha chegada. — A festa tá boa... até agora. Ela não recuou, não desviou o olhar. Eu ri, balançando a cabeça devagar. — Tu gosta de jogar duro, né? Ela cruzou os braços, me olhando como se estivesse avaliando. — Eu gosto de deixar claro que ninguém vem na minha direção achando que já ganhou. Meu sorriso aumentou. Essa mulher era um problema. E eu adorava resolver problemas.