Janete Narrando
Ele parou bem na minha frente, cheio de marra, como se tivesse certeza de que eu já tava no papo. Eu vi no olhar dele. Aquela confiança de quem manda e desmanda, de quem tá acostumado a ter tudo na hora que quer. Mas comigo? O jogo era diferente. Cruzei os braços, encarando ele sem pressa. O tal do Pantera era um homem que chamava atenção sem precisar fazer esforço. Moreno, forte, todo tatuado, olhar afiado como quem já viu e viveu muita coisa. Mas nada disso me impressionava. Poder e respeito eram conquistados, não enfiados goela abaixo. — E aí, morena... tá gostando da festa? — a voz dele veio baixa, carregada de provocação. Levantei uma sobrancelha, segurando um sorriso. — A festa tá boa... até agora. Ele riu, daquele jeito de quem já ouviu de tudo, mas ainda se diverte quando alguém foge do roteiro que ele tá acostumado. — Tu gosta de jogar duro, né? Inclinei um pouco a cabeça, sem desviar o olhar. — Eu gosto de deixar claro que ninguém vem na minha direção achando que já ganhou. Vi o sorriso dele aumentar, e percebi que eu não tava lidando com qualquer um. Ele não era do tipo que se irritava fácil. Pelo contrário, parecia que isso só deixava ele mais interessado. Mas eu também não tava ali pra alimentar ego de homem. Dei um passo pro lado, pegando meu copo na mesa sem pressa. Dei um gole, mantendo a atenção nele, esperando o próximo movimento. Ele ia insistir ou ia entender que comigo a conversa era outra? Eu não fugia de jogo, mas quem entrava comigo tinha que saber que a partida era no meu ritmo. Pantera não desviou. Ficou ali, me olhando com aquele sorrisinho de canto, como se já soubesse que eu tava testando ele. E, pra falar a verdade, eu tava mesmo. A maioria dos caras já teria soltado alguma gracinha ou dado um passo pra trás, mas ele? Não. Continuava ali, tranquilo, como quem tem tempo de sobra. — Gosto disso, sabia? — Ele inclinou a cabeça, me analisando. — Mulher que não entrega jogo fácil. Dei um gole na bebida, sem pressa, antes de responder. — Então você vai adorar me conhecer... porque eu não entrego jogo. Ponto. Dessa vez ele riu de verdade. Um riso rouco, baixo, cheio de malícia. Eu podia sentir o olhar dele passeando por mim, mas não daquele jeito nojento e sem respeito que eu já tinha visto em muito homem por aí. Tinha outra coisa ali. Como se ele estivesse tentando entender onde que eu ia ceder. Só que eu não cedia. A música trocou pra um batidão pesado, e eu aproveitei pra me afastar um pouco, voltando a mexer o corpo no ritmo. Não precisava pedir licença pra sair dali. Se ele fosse esperto, ia entender que, comigo, a conversa não era na base da insistência..Mas Pantera era mais esperto do que eu esperava. Ele não puxou meu braço, não veio atrás com aquela pressa desesperada de quem quer marcar território. Só ficou ali, de canto, observando, como quem sabia que a noite ainda tava só começando. E, no fundo, eu sabia que isso não ia terminar ali. Continuei dançando, mas não conseguia ignorar a presença dele ali, parado, me observando como um caçador analisando sua presa. Só que eu não era presa de ninguém. A batida forte do funk pulsava no meu peito, e eu deixava meu corpo seguir o ritmo, sem pressa, sem intenção de impressionar ninguém. Eu tava ali pra curtir, não pra alimentar o ego de homem. Mas Pantera não era como os outros. Ele não forçava, não tentava me dobrar no grito. Só esperava. Isso me irritava e me instigava ao mesmo tempo. Nath se aproximou, rindo e puxando meu braço. — Amiga, você tem noção do que tá fazendo? — Ela me olhava como se eu fosse maluca. — Esse homem aí é o dono do morro, Janete! Revirei os olhos, pegando meu copo de novo. — E daí, Nath? Ele manda no morro, não em mim. Ela arregalou os olhos, claramente nervosa. — Tá brincando com fogo... Soltei um riso curto. — Eu sei apagar incêndio. Nath balançou a cabeça, mas desistiu de insistir. Ela me conhecia bem o suficiente pra saber que eu não ia mudar minha postura só porque o cara era influente. Quando virei de novo, Pantera continuava ali. Dessa vez, segurava um copo, tragando a situação com a mesma calma de antes. Mas tinha um brilho diferente nos olhos dele. A gente tava jogando um jogo silencioso, e eu sabia que, mais cedo ou mais tarde, um dos dois ia ter que fazer o próximo movimento. E eu tava curiosa pra saber até onde ele ia. A noite continuava pegando fogo, mas eu sentia aquele olhar em cima de mim o tempo todo. Pantera não se aproximava, não tentava nada, mas também não desviava. Ele só observava, como quem já sabia que, em algum momento, eu ia acabar indo até ele. O problema é que ele não me conhecia. Eu não sou do tipo que vai atrás. Nath já tava entretida demais dançando com um cara e me largou ali, sozinha. Normal, eu já esperava. Resolvi ir até o bar pegar mais uma bebida. Enquanto esperava, senti uma presença pesada se aproximando. Não precisei virar pra saber quem era. — Já vi que cê gosta de testar a paciência dos outros, hein, morena. — A voz dele veio baixa, perto do meu ouvido, carregada daquela malícia preguiçosa. Sorri de canto antes de virar, segurando meu copo. — Não tô testando ninguém. Só não sou de correr atrás. Ele riu, aquele riso rouco, arrastado. — Bom saber... porque eu também não corro. A gente ficou ali, se encarando, como se medisse forças sem precisar de palavras. Eu via nos olhos dele que ele não tava acostumado a ser ignorado, mas também não tava irritado com isso. Pelo contrário, parecia achar graça. — Então cê vai ficar só olhando a noite toda? — Cruzei os braços, desafiando. Ele deu um gole na bebida, mantendo aquele olhar afiado em mim. — Não, morena. Eu vou esperar. Levantei uma sobrancelha, intrigada. — Esperar o quê? Ele inclinou a cabeça, sorrindo de lado. — A hora que cê perceber que tá jogando no mesmo time que eu. Aquele jeito confiante dele me dava vontade de rir e revirar os olhos ao mesmo tempo. Mas uma coisa eu tinha que admitir… Pantera não era qualquer um..E, por mais que eu não quisesse admitir… eu gostava desse jogo.