Os dias continuavam se arrastando, mas uma mudança sutil se instalara no ar.
Entre as paredes frias do castelo, Elora percebia os olhares sobre ela se transformando.
Antes era só desprezo e ódio. Agora... algo mais perigoso se misturava: curiosidade, temor e uma fome mal contida.
Dois guardas em especial haviam mudado.
Marek, jovem e arrogante, agora hesitava antes de dar-lhe ordens.
Eldon, brutal e velho, pesava suas palavras como se algo o enojasse — ou o assustasse.
Elora não confiava neles. Mas seu instinto lhe dizia que esses sinais eram apenas o começo.
Seus poderes — adormecidos — já começavam a perturbar aqueles ao seu redor, mesmo que ela ainda não tivesse despertado totalmente.
Ao seu lado, Lilith, sempre perspicaz, também percebia.
Enquanto esfregavam juntas o chão frio do grande salão, Lilith se inclinou e sussurrou:
— Você sente? Como eles te olham... como se pressentissem o que você carrega dentro de si?
Elora permaneceu em silêncio, os olhos fixos no chão imundo.
Lilith riu baixinho, um som seco.
— Não tenha dúvidas... isso é só o começo, Elora. Alguns vão querer se aproximar. Outros... destruir você antes que floresça.
Elora ignorou o comentário, acostumada à crueldade do mundo.
Mas Lilith não terminou ali.
— Falando em aproximações... ouvi dizer que o General Aldric anda observando você demais.
— Ela soltou uma risadinha provocadora. — Sabe... muitos aqui têm medo dele. Eu também.
Fez uma pausa dramática.
— Mas, honestamente... eu acho que ele sente algo diferente por você.
Elora arqueou uma sobrancelha, desconfiada.
— E o que você acha dele? — Lilith perguntou, os olhos brilhando de malícia.
Elora abriu a boca para responder, mas Lilith rapidamente acrescentou, num sussurro ainda mais baixo:
— Não que importe muito... todos sabemos que o verdadeiro perigo é outro.
Ela olhou ao redor com medo e cochichou como se invocasse um demônio:
— O rei Lycan. Darian.
Ao ouvir o nome, Elora sentiu uma corrente gelada percorrer sua espinha.
Darian Vo'korr.
O soberano que governava com mão de ferro e olhos de fera.
O predador supremo.
Lilith estremeceu e mordeu o lábio inferior.
— Eu tenho pavor dele... mas, deuses, ele é lindo como um pecado.
Ela riu baixinho e cutucou Elora com o ombro.
— E você? O que acha do rei, Elora?
Antes que Elora pudesse sequer organizar seus pensamentos — e eram pensamentos perigosos demais para serem ditos em voz alta — a atmosfera do salão mudou.
O silêncio caiu como uma lâmina.
A porta rangeu violentamente e ele apareceu.
Darian.
O rei Lycan entrou com a força de uma tempestade.
Seus olhos dourados encontraram Elora no mesmo instante, e a fúria crua neles era quase palpável.
Lilith, pálida como a morte, baixou os olhos e se curvou rapidamente, fingindo ainda limpar o chão.
Elora, no entanto, permaneceu ereta, o corpo rígido, cada músculo em alerta.
Darian avançou como uma sombra viva, cada passo ecoando como trovões no salão vazio.
Quando parou diante de Elora, a raiva parecia irradiar dele em ondas sufocantes.
Seus olhos selvagens percorreram o rosto dela, depois seus lábios, depois suas mãos.
Havia ciúme ali — ciúme cru, primitivo — tão evidente que Lilith quase se encolheu no chão.
Darian aproximou-se ainda mais, seu peito quase tocando o dela.
— Você deveria ter terminado esse salão há uma hora, Elora. — A voz dele era baixa, carregada, como se lutasse para manter o controle.
Elora ergueu o queixo, desafiadora, mesmo sentindo o corpo inteiro trêmulo pela presença avassaladora dele.
Darian rosnou baixinho — um som animalesco — e a agarrou pelo braço, com força, mas sem machucá-la.
Lilith segurou a respiração, aterrorizada.
— A partir de agora — disse Darian, os dentes cerrados — você não vai trabalhar mais aqui.
Elora piscou, confusa.
— Vai ficar sob minha vigilância direta.
Sem dar explicações, Darian a puxou em direção à saída, sua mão firme como uma algema.
Lilith ficou para trás, os olhos arregalados de horror... e talvez inveja.
Antes de cruzar a porta, Elora olhou por cima do ombro e viu o rosto apavorado da amiga.
Sabia que sua vida acabava de mudar.
Sabia que o rei Lycan a havia reivindicado de alguma forma.
E que não havia mais volta.
Darian não era um rei comum.
Ele era uma fera.
E ela acabara de ser escolhida por ela.