capítulo 5 olhares perigosos

Os dias continuavam se arrastando, mas uma mudança sutil se instalara no ar.

Entre as paredes frias do castelo, Elora percebia os olhares sobre ela se transformando.

Antes era só desprezo e ódio. Agora... algo mais perigoso se misturava: curiosidade, temor e uma fome mal contida.

Dois guardas em especial haviam mudado.

Marek, jovem e arrogante, agora hesitava antes de dar-lhe ordens.

Eldon, brutal e velho, pesava suas palavras como se algo o enojasse — ou o assustasse.

Elora não confiava neles. Mas seu instinto lhe dizia que esses sinais eram apenas o começo.

Seus poderes — adormecidos — já começavam a perturbar aqueles ao seu redor, mesmo que ela ainda não tivesse despertado totalmente.

Ao seu lado, Lilith, sempre perspicaz, também percebia.

Enquanto esfregavam juntas o chão frio do grande salão, Lilith se inclinou e sussurrou:

— Você sente? Como eles te olham... como se pressentissem o que você carrega dentro de si?

Elora permaneceu em silêncio, os olhos fixos no chão imundo.

Lilith riu baixinho, um som seco.

— Não tenha dúvidas... isso é só o começo, Elora. Alguns vão querer se aproximar. Outros... destruir você antes que floresça.

Elora ignorou o comentário, acostumada à crueldade do mundo.

Mas Lilith não terminou ali.

— Falando em aproximações... ouvi dizer que o General Aldric anda observando você demais.

— Ela soltou uma risadinha provocadora. — Sabe... muitos aqui têm medo dele. Eu também.

Fez uma pausa dramática.

— Mas, honestamente... eu acho que ele sente algo diferente por você.

Elora arqueou uma sobrancelha, desconfiada.

— E o que você acha dele? — Lilith perguntou, os olhos brilhando de malícia.

Elora abriu a boca para responder, mas Lilith rapidamente acrescentou, num sussurro ainda mais baixo:

— Não que importe muito... todos sabemos que o verdadeiro perigo é outro.

Ela olhou ao redor com medo e cochichou como se invocasse um demônio:

— O rei Lycan. Darian.

Ao ouvir o nome, Elora sentiu uma corrente gelada percorrer sua espinha.

Darian Vo'korr.

O soberano que governava com mão de ferro e olhos de fera.

O predador supremo.

Lilith estremeceu e mordeu o lábio inferior.

— Eu tenho pavor dele... mas, deuses, ele é lindo como um pecado.

Ela riu baixinho e cutucou Elora com o ombro.

— E você? O que acha do rei, Elora?

Antes que Elora pudesse sequer organizar seus pensamentos — e eram pensamentos perigosos demais para serem ditos em voz alta — a atmosfera do salão mudou.

O silêncio caiu como uma lâmina.

A porta rangeu violentamente e ele apareceu.

Darian.

O rei Lycan entrou com a força de uma tempestade.

Seus olhos dourados encontraram Elora no mesmo instante, e a fúria crua neles era quase palpável.

Lilith, pálida como a morte, baixou os olhos e se curvou rapidamente, fingindo ainda limpar o chão.

Elora, no entanto, permaneceu ereta, o corpo rígido, cada músculo em alerta.

Darian avançou como uma sombra viva, cada passo ecoando como trovões no salão vazio.

Quando parou diante de Elora, a raiva parecia irradiar dele em ondas sufocantes.

Seus olhos selvagens percorreram o rosto dela, depois seus lábios, depois suas mãos.

Havia ciúme ali — ciúme cru, primitivo — tão evidente que Lilith quase se encolheu no chão.

Darian aproximou-se ainda mais, seu peito quase tocando o dela.

— Você deveria ter terminado esse salão há uma hora, Elora. — A voz dele era baixa, carregada, como se lutasse para manter o controle.

Elora ergueu o queixo, desafiadora, mesmo sentindo o corpo inteiro trêmulo pela presença avassaladora dele.

Darian rosnou baixinho — um som animalesco — e a agarrou pelo braço, com força, mas sem machucá-la.

Lilith segurou a respiração, aterrorizada.

— A partir de agora — disse Darian, os dentes cerrados — você não vai trabalhar mais aqui.

Elora piscou, confusa.

— Vai ficar sob minha vigilância direta.

Sem dar explicações, Darian a puxou em direção à saída, sua mão firme como uma algema.

Lilith ficou para trás, os olhos arregalados de horror... e talvez inveja.

Antes de cruzar a porta, Elora olhou por cima do ombro e viu o rosto apavorado da amiga.

Sabia que sua vida acabava de mudar.

Sabia que o rei Lycan a havia reivindicado de alguma forma.

E que não havia mais volta.

Darian não era um rei comum.

Ele era uma fera.

E ela acabara de ser escolhida por ela.

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