Enrica passou a vida inteira fugindo. Seu cheiro não é como o de qualquer ômega—ele é letal. Onde quer que passe, alfas enlouquecem, perdem o controle e se tornam bestas sem consciência. Alguns até matam por ela. Para sobreviver, ela esconde sua verdadeira natureza, mascarando seu aroma com um colar que mantém sua existência segura. Mas tudo começa a desmoronar. Seu corpo está mudando. O colar enfraquecendo. E alfas estão começando a notar. Então, ele aparece. Um lobo negro, colossal e ferido, caído na neve como um presságio. Contra todo instinto de autopreservação, Enrica o leva para dentro de sua cabana—sem saber que acaba de salvar Caleb Vartheos, o príncipe herdeiro e Alfa Maldito de sua matilha. Um alfa puro. Um monstro temido pelo reino. Mas enquanto todos os outros alfas enlouquecem com seu cheiro, Caleb sente outra coisa. Ela o acalma. Pela primeira vez em sua vida, a fera dentro dele encontra paz. E isso só o torna ainda mais perigoso. Agora, enquanto segredos são revelados e forças maiores conspiram para separá-los, Caleb e Enrica se veem presos em um jogo mortal de desejo, instinto e poder. Ele a quer. Ele a reivindicará. Mas será que ela sobreviverá ao Alfa que ninguém jamais conseguiu domar?
Leer másPOV ENRICAO salão ainda vibrava com o eco do uivo de Caleb. Eu sentia minhas pernas fraquejarem, mas mantive a postura, orgulhosa. Caleb apertou minha mão com firmeza, a preocupação claramente estampada em seu rosto.— Você está bem? — ele perguntou, a voz baixa apenas para mim.Senti o calor do pequeno ser crescendo dentro de mim, como se a força do uivo tivesse ressoado também na alma do nosso filho. A tontura era real, mas sorri para ele, firme.— Estou ótima — garanti. — Nada vai estragar esse momento.Caleb pareceu hesitar, mas ao meu sorriso, sua expressão suavizou. O Grão-Mestre Eren se adiantou, seus olhos pairando sobre nós com a solenidade de quem presenciava a história sendo escrita.— Podemos prosseguir? — ele perguntou.Caleb assentiu e hesitante, soltou minha mão. Um novo silêncio se espalhou pelo salão.Eren ergueu os braços.— Diante dos conselheiros, do povo e dos ancestrais, invoco o juramento que sela não apenas uma união, mas uma nova era.Ele indicou para que Cale
POV CALEBAs portas do salão se impunham diante de mim, douradas e pesadas, vigiadas por dois guardas cerimoniais. Ao lado delas, estavam minha mãe e Enrica, à minha espera.Amelia cruzou os braços, com aquele olhar de desdém polido que dominava melhor que qualquer coroa.— Até no dia da sua sucessão e casamento você se atrasa. Inacreditável.Bufei, sem muita paciência para repreensões. Ignorando a mãe, voltei meu foco para o que realmente importava. Enrica.Vestida em branco e prata, com uma tiara discreta reluzindo sob as tochas do corredor. Meus dedos buscaram os dela, e beijei sua mão com devoção.Seu sorriso pequeno, nervoso, aqueceu algo profundo dentro de mim.As portas se abriram com um estrondo controlado.— Apresentando Sua Majestade, a Rainha Amelia de Vartheos, o Príncipe Caleb, herdeiro da Coroa, e Lady Enrica.O salão era um mar dourado de olhares. Lustres gigantes pendiam do teto, lançando brilhos cintilantes sobre os convidados. As melodias suaves pairavam no ar, mas o
POV CALEBEntrei no quarto em silêncio, mas não fui rápido o bastante para evitar o susto que se estampou no rosto dela. Enrica deu um passo para trás, os olhos arregalados, e levou a mão ao peito.— Pelos deuses, Caleb! — ela exclamou, a voz tremendo. — Você quase me matou do coração!Parei no mesmo instante, o corpo ainda tenso da urgência que me guiava. Levantei as mãos, mas minha presença ali já pesava como algo inevitável.— Me desculpe. Não consegui ficar longe... — minha voz saiu mais rouca do que pretendia. — Achei que soubesse que era eu.— Entrar sorrateiro assim? Como se eu já não estivesse ansiosa o bastante?O coração batia tão forte que quase doía. Caminhei até ela com cautela, mas por dentro, o lobo rugia pela proximidade. Pela marca.— Eu devia te proteger de tudo. Até de mim. — admiti, olhando para suas mãos ainda trêmulas. — Mas continuo te assustando…Ela se aproximou, e ao tocar meu rosto, algo em mim sossegou.— E mesmo assim, é ao seu lado que o medo desaparece.
POV CALEBAntes de cruzarmos as portas que levavam até a ala da rainha, parei por um instante. Minhas mãos seguraram as de Enrica, quentes, vivas, tão pequenas comparadas às minhas — mas era nelas que todo o meu reino agora se equilibrava.— Enrica…Ela me olhou, os olhos ainda atentos, mas suaves.— Jurei que te protegeria. E não importa quantas guerras eu tenha que lutar, quantos conselheiros eu precise calar ou quantas vezes eu precise me transformar naquela maldita criatura… — respirei fundo, a voz falhando. — Eu faria tudo de novo. Por você.Ela não respondeu com palavras, apenas segurou meu rosto e encostou a testa na minha, fechando os olhos. O cheiro dela era casa. Vida. Promessa.— Eu sei, Caleb. — Sua voz foi um sussurro. — E eu e nosso filho estaremos aqui quando você voltar de todas essas guerras.Minha garganta fechou. Como um lobo que encontra paz em meio à floresta devastada.— Mas eu preferiria que você não começasse mais nenhuma guerra.Eu ri.— Impossível, minha amad
POV CALEBPassaram-se alguns dias desde o retorno ao castelo. O clima entre os corredores ainda era tenso, mas o foco agora era outro: o tratado de paz com Liene.Averine, princesa herdeira de Liene, chegou com sua comitiva em meio a uma escolta neutra — acompanhada por Samuel, que havia sido enviado para garantir sua segurança e acompanhar sua estadia no reino. Alta, firme, os olhos da mesma cor de Raphael, mas sem o veneno dele. Caminhava como quem carrega um reino nas costas — e lutava para ser reconhecida como tal.Na sala de reuniões, o silêncio era espesso. Estavam presentes os generais, Anthony, Oliver, minha mãe — ainda com a postura altiva — e Magnus, observador como sempre.— Príncipe Caleb — disse Averine, com um leve aceno. — Antes de qualquer palavra, quero me desculpar pelo que meu irmão fez. Não foi Liene quem declarou essa guerra. Foi Raphael.— E ele pagou por isso. — Minha voz saiu firme. — Mas não vamos fingir que a tensão entre nossos reinos começou com ele.— Conc
POV ENRICAAlicia estava sentada na poltrona ao lado da cama, com uma xícara de chá quase esquecida nas mãos. Seus olhos percorriam as bordas da porcelana, distraídos, mas sua atenção estava completamente voltada para mim.— Você não tem ideia do quanto eu agradeci por te ver acordada, Enrica. — Sua voz saiu baixa, quase como um suspiro.Sorri de leve, ainda me recuperando da fraqueza. Meu corpo doía, e os pensamentos pesavam mais do que qualquer ferida física.— Também estou feliz por estar aqui — respondi. — Mas… a cabeça não para.Alicia ergueu uma sobrancelha, esperando que eu continuasse.— Raphael… ele contou algumas coisas. Coisas que ainda estou tentando processar. — Respirei fundo. — Ele falou sobre uma nova droga, a draeX. E que o sangue dos alfas e ômegas raros, o meu… era essencial pra ela.A expressão de Alicia se fechou. Ela pousou a xícara na mesinha ao lado, cruzando os braços.— Isso está cada vez mais estranho — murmurou. — Sabe, eu venho pensando… Raphael era um por
POV CALEBO salão estava mergulhado em silêncio tenso. Ao meu lado, minha mãe se mantinha imóvel, o rosto frio como pedra. Teren já havia sido arrastado pelos guardas, mas o veneno de suas últimas palavras ainda pairava no ar. Um dos conselheiros mais antigos se levantou, a voz grave ecoando pelo salão:— Alteza, com a morte do Príncipe Raphael… como o senhor pretende conduzir os desdobramentos diplomáticos? Foi ele quem provocou esta guerra, sim, mas… a Princesa Averine ainda estava em campo quando tudo começou.Minhas mandíbulas se cerraram. A imagem de Enrica presa, machucada, ainda pulsava por trás dos meus olhos.— Raphael manipulou a todos, inclusive sua própria irmã — respondi. — Ele pretendia usar ômegas e alfas raros como arma biológica. O sequestro de minha companheira fazia parte de um plano maior. DraeX. Linhagens raras. Controle através de sangue. É isso que ele buscava. E quase conseguiu.Um burburinho nervoso se espalhou entre os conselheiros. Magnus manteve-se calado,
POV CALEB— Eu achei que te perderia — confessei, deixando meus dedos subirem até o rosto dela, traçando a curva da mandíbula. — Nunca mais faz isso comigo. Nunca mais some de mim assim…Ela chorou. Silenciosamente. As lágrimas correram pelos cantos dos olhos, e eu as beijei, uma a uma. Meu peito doía com a intensidade daquilo. A marca pulsava em alívio, mas meu lobo ainda rugia, protetor.— Você… — ela tentou falar, e eu a interrompi com um gesto carinhoso.— Eu sei. — Afastei uma mecha úmida de suor do rosto dela. — E tem outra coisa que sei também.Ela me olhou, confusa. Os olhos marejados.— A gravidez — completei, e vi o susto tomar conta do rosto dela.— Como…?— Oliver. — Revirei os olhos, mesmo emocionado. — Abriu a boca como um idiota. Se eu não estivesse tão feliz, cortava a língua dele.— Aquele… — Ela parou, frustrada. — Eu queria ser a primeira a te contar.— E devia ter sido. — Sorri, puxando-a mais para perto. — Mas agora que eu sei…As lágrimas voltaram, desta vez nos
POV CALEBAinda não era eu.A floresta já havia sumido. A batalha também… pelo menos a mais perigosa. Tudo o que existia agora era o castelo à minha frente — silencioso, assombrado — e os soldados ao redor, tensos, recuados, temendo o que eu era.O lobo ainda estava no controle. Minhas patas gigantes pressionavam o solo com peso antigo. Os olhos rubros varriam cada detalhe ao redor como se caçassem uma ameaça invisível. Mas não era isso.Era ela. O cheiro dela. Doce. Selvagem. Oscilante. Misturado agora com algo novo.Meu peito arfava com violência. Rosnei baixo, irritado com minha própria impotência. Eu podia sentir Enrica, viva, próxima, mas inacessível. O castelo era pequeno demais para o que eu me tornara. Essa forma não cabia mais entre paredes.Girei em círculos. Garras cavando a terra como se pudesse arrancar respostas do chão. Um soldado se aproximou demais e meu corpo inteiro se retesou, o rosnado profundo fazendo-o cair de joelhos. Quase o ataquei. Mas me contive. Por ela.O