Enrica passou a vida inteira fugindo. Seu cheiro não é como o de qualquer ômega—ele é letal. Onde quer que passe, alfas enlouquecem, perdem o controle e se tornam bestas sem consciência. Alguns até matam por ela. Para sobreviver, ela esconde sua verdadeira natureza, mascarando seu aroma com um colar que mantém sua existência segura. Mas tudo começa a desmoronar. Seu corpo está mudando. O colar enfraquecendo. E alfas estão começando a notar. Então, ele aparece. Um lobo negro, colossal e ferido, caído na neve como um presságio. Contra todo instinto de autopreservação, Enrica o leva para dentro de sua cabana—sem saber que acaba de salvar Caleb Vartheos, o príncipe herdeiro e Alfa Maldito de sua matilha. Um alfa puro. Um monstro temido pelo reino. Mas enquanto todos os outros alfas enlouquecem com seu cheiro, Caleb sente outra coisa. Ela o acalma. Pela primeira vez em sua vida, a fera dentro dele encontra paz. E isso só o torna ainda mais perigoso. Agora, enquanto segredos são revelados e forças maiores conspiram para separá-los, Caleb e Enrica se veem presos em um jogo mortal de desejo, instinto e poder. Ele a quer. Ele a reivindicará. Mas será que ela sobreviverá ao Alfa que ninguém jamais conseguiu domar?
Ler maisPOV ENRICA
O vento cortante soprava contra a cabana, uivando como uma entidade raivosa, mas foi outro som que me despertou no meio da noite. Um uivo, longo e carregado de um sofrimento que eu não sabia nomear. Não era apenas um chamado ou um aviso, era um lamento profundo, um grito de dor rasgando a escuridão.
Sentei-me na cama, ofegante. Meu coração martelava forte contra o peito, a sensação de inquietação se espalhando por minhas veias como veneno. A lareira ainda crepitava, lançando sombras trêmulas contra as paredes de madeira. Mas o calor não era suficiente para abafar o arrepio que se arrastou pela minha pele.
Outro uivo ecoou, mais fraco dessa vez, como se a própria noite estivesse engolindo sua força. Engoli em seco. Algo estava errado.
Levantei-me sem hesitação, puxando um casaco grosso e calçando minhas botas. O medo sussurrava para eu ignorar aquele chamado, mas a curiosidade sempre foi um veneno que corriam em minhas veias. E eu precisava ver com meus próprios olhos o que estava acontecendo.
Abri a porta da cabana, e o ar gélido me atingiu com violência. A neve reluzia sob a luz pálida da lua, um cenário de beleza fria e implacável. Mas o que me atraiu não foi a paisagem congelada.
E sim, a presença ali.
Avancei com cautela, os flocos rangendo sob minhas botas. O som do meu próprio coração parecia ensurdecedor no silêncio da floresta adormecida. Até que o vi.
Uma silhueta colossal jazia caída na neve, um vulto escuro contrastando contra a brancura imaculada. Um lobo. Mas não qualquer lobo.
Minha respiração ficou presa na garganta.
Ele era enorme, maior do que qualquer criatura que eu já vira. Seu pelo negro parecia absorver a luz ao invés de refleti-la, como uma sombra viva. O peito largo subia e descia com esforço, e conforme me aproximei, pude ver o tremor sutil que percorria seu corpo.
Um rosnado fraco reverberou no ar quando dei mais um passo. O som gutural e ameaçador fez meus instintos gritarem para que eu recuasse. Mas meus pés se fincaram no chão.
Ele estava ferido. Não precisava ser um especialista para perceber isso. Seu corpo se contraía de dor, e a neve ao redor dele estava manchada com pequenas marcas escuras. Sangue.
Um arrepio percorreu minha espinha. Algo ou alguém o havia atacado. Mas o quê? Ou quem?
Eu deveria me afastar. Voltar para a cabana, fingir que nunca o vi e seguir minha vida. Mas meus olhos se prenderam aos dele, e qualquer pensamento racional desapareceu.
Escarlate.
Seus olhos eram de um vermelho hipnotizante, como brasas acesas em meio à escuridão. Profundos, intensos, e... inteligentes.
Aquela não era a expressão vazia de um animal selvagem. Havia algo ali. Algo que me fez sentir como se estivesse sendo puxada para um abismo sem volta.
Ele rosnou de novo, um som arrastado e rouco, mas sem força para me afastar.
E então, mesmo contra todo senso lógico, eu ajoelhei ao seu lado, minha respiração pesada e os dedos trêmulos se estendendo, hesitantes, para tocá-lo.
Meus olhos percorreram seu corpo e então vi. Duas flechas. Uma cravada em seu ombro, a outra entre suas costelas. O sangue encharcava o pelo negro, tingindo a neve ao redor.
— Você está ferido… — murmurei, minha voz saindo baixa, quase inaudível. Eu não sabia se ele podia entender, mas continuei. — Eu não vou machucá-lo.
Ele me observava, sua respiração arfada, quente contra o ar gelado. Seus olhos cintilavam em alerta, um animal encurralado ponderando suas opções. Talvez pensasse que eu fosse outro caçador.
— Você precisa confiar em mim. — Minha voz era um sussurro, tentando quebrar a barreira de medo e desconfiança entre nós.
Ele não reagiu com agressividade, mas também não se moveu. Apenas observou, seus olhos cravados nos meus.
Foi então que ouvi. Passos. Rápidos. Determinados. Se aproximando. Meu coração disparou. Eles estavam vindo terminar o serviço. Olhei para o lobo. Eu não podia deixá-lo ali. Se ficasse, ele morreria.
— Você precisa se mover. — Me inclinei, tentando convencê-lo. — Se me deixar ajudá-lo, eu posso levá-lo para um lugar seguro.
O lobo hesitou. Vi o conflito em seus olhos, o instinto lhe dizendo para fugir, mas seu corpo ferido não lhe daria essa chance. E ele sabia disso.
A decisão veio em um suspiro pesado. Com esforço, ele tentou se erguer, suas patas vacilando. Eu o apoiei como pude, sentindo a força crua em seu corpo, mesmo debilitado.
Cada segundo contava. Se não saíssemos dali agora, não haveria mais chance. Corremos. Ou melhor, tropeçamos, cambaleamos, mas seguimos em frente. Meu corpo queimava com o esforço de sustentá-lo, mas eu não pararia. Os passos se tornaram mais próximos.
— Anda! — sussurrei para o lobo, apoiando seu corpo contra o meu enquanto ele mancava.
Cada passo era uma luta contra o tempo e o medo. O lobo negro mancava ao meu lado, sua respiração pesada e quente contra o frio cortante da noite. O som dos passos se aproximava, e meu coração batia em um frenesi descontrolado. Não podíamos parar. Não podíamos hesitar.
A cabana surgiu diante de nós como uma promessa silenciosa de abrigo. As janelas pequenas e a madeira gasta mal pareciam oferecer segurança, mas era tudo o que tínhamos. A dor cravava garras afiadas em meus músculos enquanto eu forçava meu corpo a seguir em frente, sustentando o peso da criatura ferida.
Alcançamos a porta, e com um último esforço, empurrei o lobo para dentro. Girei a chave no trinco no instante em que um estalo do lado de fora me fez prender a respiração. A madeira vibrou quando algo — ou alguém — colidiu contra ela.
Segurei firme a maçaneta, como se pudesse impedir qualquer invasão apenas com minha vontade. O silêncio que se seguiu foi sufocante. Depois, passos se afastando, lentamente, como se soubessem que não podiam entrar.
Meus músculos cederam, e me virei para encarar a criatura que acabara de salvar.
O lobo negro tombou no chão, ofegante. Seus olhos — predadores, mas opacos de dor — me observavam, ainda inseguros. O calor da lareira crepitando parecia um convite ao descanso, mas sua postura tensa mostrava que ele ainda não decidira se eu era um refúgio ou uma nova ameaça.
— Você está seguro agora — murmurei, sem esperar que ele entendesse as palavras, apenas a intenção nelas.
Ele piscou devagar, a respiração desacelerando à medida que a exaustão vencia sua desconfiança. Aos poucos, suas pálpebras pesadas cederam, e o corpo tenso se rendeu ao sono.
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Olá, meus amores! Para melhorar a experiência de leitura e tornar os capítulos mais leves e fáceis de acompanhar, fiz uma divisão técnica nos capítulos da história. O conteúdo continua exatamente o mesmo, apenas dividido em partes menores. Nenhum trecho foi excluído ou alterado, apenas reestruturado para melhorar o ritmo da leitura. Por isso, pode ser que os capítulos que você já leu estejam com nova numeração. Agradeço imensamente a compreensão e o apoio de vocês. E preparem-se, porque as próximas cenas vão pegar fogo! Com carinho, Pann Ludovica
POV ENRICAO salão ainda vibrava com o eco do uivo de Caleb. Eu sentia minhas pernas fraquejarem, mas mantive a postura, orgulhosa. Caleb apertou minha mão com firmeza, a preocupação claramente estampada em seu rosto.— Você está bem? — ele perguntou, a voz baixa apenas para mim.Senti o calor do pequeno ser crescendo dentro de mim, como se a força do uivo tivesse ressoado também na alma do nosso filho. A tontura era real, mas sorri para ele, firme.— Estou ótima — garanti. — Nada vai estragar esse momento.Caleb pareceu hesitar, mas ao meu sorriso, sua expressão suavizou. O Grão-Mestre Eren se adiantou, seus olhos pairando sobre nós com a solenidade de quem presenciava a história sendo escrita.— Podemos prosseguir? — ele perguntou.Caleb assentiu e hesitante, soltou minha mão. Um novo silêncio se espalhou pelo salão.Eren ergueu os braços.— Diante dos conselheiros, do povo e dos ancestrais, invoco o juramento que sela não apenas uma união, mas uma nova era.Ele indicou para que Cale
POV CALEBAs portas do salão se impunham diante de mim, douradas e pesadas, vigiadas por dois guardas cerimoniais. Ao lado delas, estavam minha mãe e Enrica, à minha espera.Amelia cruzou os braços, com aquele olhar de desdém polido que dominava melhor que qualquer coroa.— Até no dia da sua sucessão e casamento você se atrasa. Inacreditável.Bufei, sem muita paciência para repreensões. Ignorando a mãe, voltei meu foco para o que realmente importava. Enrica.Vestida em branco e prata, com uma tiara discreta reluzindo sob as tochas do corredor. Meus dedos buscaram os dela, e beijei sua mão com devoção.Seu sorriso pequeno, nervoso, aqueceu algo profundo dentro de mim.As portas se abriram com um estrondo controlado.— Apresentando Sua Majestade, a Rainha Amelia de Vartheos, o Príncipe Caleb, herdeiro da Coroa, e Lady Enrica.O salão era um mar dourado de olhares. Lustres gigantes pendiam do teto, lançando brilhos cintilantes sobre os convidados. As melodias suaves pairavam no ar, mas o
POV CALEBEntrei no quarto em silêncio, mas não fui rápido o bastante para evitar o susto que se estampou no rosto dela. Enrica deu um passo para trás, os olhos arregalados, e levou a mão ao peito.— Pelos deuses, Caleb! — ela exclamou, a voz tremendo. — Você quase me matou do coração!Parei no mesmo instante, o corpo ainda tenso da urgência que me guiava. Levantei as mãos, mas minha presença ali já pesava como algo inevitável.— Me desculpe. Não consegui ficar longe... — minha voz saiu mais rouca do que pretendia. — Achei que soubesse que era eu.— Entrar sorrateiro assim? Como se eu já não estivesse ansiosa o bastante?O coração batia tão forte que quase doía. Caminhei até ela com cautela, mas por dentro, o lobo rugia pela proximidade. Pela marca.— Eu devia te proteger de tudo. Até de mim. — admiti, olhando para suas mãos ainda trêmulas. — Mas continuo te assustando…Ela se aproximou, e ao tocar meu rosto, algo em mim sossegou.— E mesmo assim, é ao seu lado que o medo desaparece.
POV CALEBAntes de cruzarmos as portas que levavam até a ala da rainha, parei por um instante. Minhas mãos seguraram as de Enrica, quentes, vivas, tão pequenas comparadas às minhas — mas era nelas que todo o meu reino agora se equilibrava.— Enrica…Ela me olhou, os olhos ainda atentos, mas suaves.— Jurei que te protegeria. E não importa quantas guerras eu tenha que lutar, quantos conselheiros eu precise calar ou quantas vezes eu precise me transformar naquela maldita criatura… — respirei fundo, a voz falhando. — Eu faria tudo de novo. Por você.Ela não respondeu com palavras, apenas segurou meu rosto e encostou a testa na minha, fechando os olhos. O cheiro dela era casa. Vida. Promessa.— Eu sei, Caleb. — Sua voz foi um sussurro. — E eu e nosso filho estaremos aqui quando você voltar de todas essas guerras.Minha garganta fechou. Como um lobo que encontra paz em meio à floresta devastada.— Mas eu preferiria que você não começasse mais nenhuma guerra.Eu ri.— Impossível, minha amad
POV CALEBPassaram-se alguns dias desde o retorno ao castelo. O clima entre os corredores ainda era tenso, mas o foco agora era outro: o tratado de paz com Liene.Averine, princesa herdeira de Liene, chegou com sua comitiva em meio a uma escolta neutra — acompanhada por Samuel, que havia sido enviado para garantir sua segurança e acompanhar sua estadia no reino. Alta, firme, os olhos da mesma cor de Raphael, mas sem o veneno dele. Caminhava como quem carrega um reino nas costas — e lutava para ser reconhecida como tal.Na sala de reuniões, o silêncio era espesso. Estavam presentes os generais, Anthony, Oliver, minha mãe — ainda com a postura altiva — e Magnus, observador como sempre.— Príncipe Caleb — disse Averine, com um leve aceno. — Antes de qualquer palavra, quero me desculpar pelo que meu irmão fez. Não foi Liene quem declarou essa guerra. Foi Raphael.— E ele pagou por isso. — Minha voz saiu firme. — Mas não vamos fingir que a tensão entre nossos reinos começou com ele.— Conc
POV ENRICAAlicia estava sentada na poltrona ao lado da cama, com uma xícara de chá quase esquecida nas mãos. Seus olhos percorriam as bordas da porcelana, distraídos, mas sua atenção estava completamente voltada para mim.— Você não tem ideia do quanto eu agradeci por te ver acordada, Enrica. — Sua voz saiu baixa, quase como um suspiro.Sorri de leve, ainda me recuperando da fraqueza. Meu corpo doía, e os pensamentos pesavam mais do que qualquer ferida física.— Também estou feliz por estar aqui — respondi. — Mas… a cabeça não para.Alicia ergueu uma sobrancelha, esperando que eu continuasse.— Raphael… ele contou algumas coisas. Coisas que ainda estou tentando processar. — Respirei fundo. — Ele falou sobre uma nova droga, a draeX. E que o sangue dos alfas e ômegas raros, o meu… era essencial pra ela.A expressão de Alicia se fechou. Ela pousou a xícara na mesinha ao lado, cruzando os braços.— Isso está cada vez mais estranho — murmurou. — Sabe, eu venho pensando… Raphael era um por
Último capítulo