— Dá pra largar esse processo e viver um pouco, doutor?
Henrique ergueu os olhos dos papéis quando Rodrigo entrou no escritório sem bater, como de costume. Estava com uma expressão marota e as chaves do carro balançando entre os dedos.
— São quase nove da noite. Bora beber?
Henrique soltou um suspiro e apoiou as costas na cadeira.
— Só mais esse parecer...
— Nem vem. Desde segunda-feira você tá trancado aqui. E olha que hoje já é sexta. Você precisa de ar — e álcool.
Henrique riu, vencido.
— Tá. Só uma cerveja.
O bar “A Âncora” estava do mesmo jeito de sempre: meia-luz, mesas de madeira envelhecida e uma playlist de jazz suave embalando a brisa da noite. Sentaram-se em uma das mesas externas, com vista parcial para o mar.
— Confessa que só veio porque cansou de dar desculpas pra Beatriz — provocou Rodrigo, já com a primeira cerveja em mãos.
Henrique riu, mas desviou o olhar.
— Não foi só por isso.
— Ah, então vamos lá. O que tá pegando?
Henrique bebeu um gole, pensativo. A garrafa ain