POV: Emily
A cidade de Charleston parecia cinzenta naquela manhã, como se o céu compartilhasse do meu humor sombrio. O volante tremia sob minhas mãos, mas eu continuei dirigindo sem rumo. Meus olhos estavam inchados, ardendo de tanto chorar, e a respiração presa no peito me fazia sentir como se estivesse sufocando. O rádio tocava uma música melancólica, mas eu não conseguia escutar a melodia — era apenas um ruído distante, como tudo ao meu redor desde que... desde que eu vi o que nunca deveria ter visto. Ainda me lembro do que senti quando decidi aparecer de surpresa na casa do Dylan. Já tinha feito isso tantas vezes antes, com aquele entusiasmo ingênuo de quem acredita que conhece bem quem ama. Mas, naquele dia, quem foi surpreendida fui eu. A cena me atingiu como um soco no estômago. Está gravada na minha mente, vívida, dolorosa, impossível de apagar: Dylan, o homem que eu amava há três anos, nu, sobre o corpo da minha melhor amiga. Sophie. Os dois estavam entrelaçados, entregues um ao outro, completamente alheios a qualquer culpa ou vergonha. Não gritei. Não chorei. Não naquele momento. Apenas congelei. Meus pés ficaram colados ao chão, meus olhos fixos neles. O tempo parou, e o ar ao meu redor se tornou irrespirável. Eu fiquei ali, assistindo à traição se desenrolar diante dos meus olhos, até que eles finalmente perceberam minha presença. Dylan saltou da cama, tentando cobrir-se às pressas, o rosto pintado com uma expressão de pânico falso, ridículo. — Emily, espera... não é o que parece — ele disse, como se aquelas palavras servissem para apagar o que eu acabara de ver. Tive vontade de rir, de gritar, de chorar... mas a dor foi mais forte. — Sério? Então o que é? Estavam ensaiando uma cena de filme pornô na minha ausência? Eu saí de lá sem dizer mais nada. Entrei no carro e dirigi sem direção. As lágrimas vieram como uma tempestade, cegando meus olhos, queimando minha pele por dentro. Cada lembrança de Dylan — seus toques, seus beijos, suas promessas — agora era uma faca cravada no meu peito. E Sophie... como ela pôde? Como alguém que jurava lealdade pôde apunhalar minhas costas daquela forma? Depois de horas vagando sem rumo, meus instintos me levaram até um lugar que eu conhecia bem: a casa de campo da família Wolfe. Assim que a vi, uma onda de lembranças me invadiu. Aquela construção antiga, cercada por árvores altas e encoberta por um nevoeiro denso, fora nosso refúgio em tantos verões. Risadas no lago, noites à beira da lareira, promessas sob as estrelas... Tudo isso agora parecia parte de uma farsa cuidadosamente encenada. Estacionei o carro e desci com passos trêmulos. O vento frio bagunçava meus cabelos, mas eu não me importava. Eu só queria desaparecer. O portão de ferro rangeu quando empurrei, como se resistisse à minha presença. Subi a varanda coberta de folhas secas, meu peito apertado, como se algo ali também tivesse sido traído. A porta estava entreaberta. Meu coração bateu mais forte. — Olá, tem alguém aí? — chamei, minha voz mal saindo. Nada. Apenas o silêncio. Entrei devagar, os pés afundando nas tábuas velhas e rangentes. O cheiro de madeira úmida e lareira apagada me envolveu, trazendo conforto e inquietação ao mesmo tempo. Era como se o passado estivesse ali, me observando. Senti um arrepio subir pela nuca, mas ignorei. Eu estava cansada demais para sentir medo. Tudo o que eu queria agora era me esconder. Me esconder do mundo. De mim mesma.