O beijo no meio da crise
Eu passei pela secretária de Paul sem abrandar. O 'Não' dela foi engolido pelo som dos meus sapatos de salto alto no mármore polido do hall. Eu mal conseguia respirar, e a caixa do cannoli, um doce ridículo, parecia um troféu de guerra nas minhas mãos. A raiva de Tereza, a frustração de Paul, tudo se transformou numa energia destemida.
A porta do escritório de Paul estava entreaberta. Ouvi a voz dele, calma e controlada, a falar de "projeções e otimização de ativos". A sua voz de CEO. O homem que tinha me pedido uma chance há três dias e agora estava a três metros de distância, a me trata com a reverência de um vizinho.
Eu não bati. Eu empurrei a porta de carvalho.
Paul, de pé junto à sua mesa, parou a meio de uma frase. Os dois homens do conselho, de fatos cinzentos e expressões pétreas, viraram as cabeças para mim com surpresa. A sala cheirava a café forte e a poder.
— Catarina! — Paul tentou injetar calma na sua voz, mas o choque estava lá. Ele estava apanh