Capítulo 6 O jantar

Capítulo 6

Catarina Smith

— Não acha que está muito exagerado? — pergunto a mim mesma, me vendo no espelho. — Não parece que estou apelando?

Minha figura no espelho estava bonita, mas algo me incomodava. Aquele jantar era estranho. Eu não tinha pedido por isso, mas estava nervosa e queria causar uma boa impressão.

Paul era uma caixinha de surpresas. Eu não o conhecia o suficiente para apostar todas as minhas fichas nele, mas o faria sem pensar duas vezes. Essa era a droga de estar apaixonada desde sempre: negar para todos, mas o único de quem você não pode esconder é do seu coração.

Lila veio comigo para casa tagarelando que Paul seria o noivo perfeito, que ele era um pouco sério, mas parecia ser um cara legal. Que eu finalmente iria me relacionar e ter um casamento com alguém que eu gostava.

Na faculdade, ele era o rapaz mais lindo do campus, super badalado, que arrancava suspiros de todas as garotas. No último ano do seu curso, algo mudou nele. Parecia que a luz que ele tinha se apagou. Ele estava mais quieto e retraído, não era mais o rei das festas. Depois que Lila me disse que ele foi apaixonado por alguém que não podia, acreditei que foi isso que ofuscou o seu brilho. Claro que nada se confirmou na época, e o mesmo brilho nos olhos castanhos que me chamavam tanta atenção tinha sumido.

Volto do mundo da lua vendo a minha amiga e minha mãe revirarem meu closet em busca do vestido perfeito para o jantar com meu possível futuro noivo. Aliás, para o jantar em que eu iria conhecer a família Evans. Estava começando a acreditar que realmente era o nosso noivado, porque mal soube do possível casamento, e agora estava recebendo a família Evans na minha casa.

— Você não está linda, minha filha, você está fantástica! — minha mãe diz toda animada. — Você fica muito bonita e moderna de verde. Sabe que é a sua cor preferida e vai te dar sorte!

Ela me via com um vestido verde-escuro justo, mas não revelador, um salto alto e um conjunto singelo de joias. Eu gostava de me arrumar, mas hoje parecia que nada estava bom o suficiente para o meu crush impossível da faculdade.

— Está magnífica e seu futuro noivo vai se apaixonar assim que a vir tão bonita e cheirosa! — Lila termina de falar. - Ele seria louco se não o fizesse. - Rimos.

Meu vestido era um dos modelos que eu mesma confeccionei. Fiz do zero, e o amava como um bebê. Meu reflexo mostrava exatamente o que eu queria: uma mulher confiante e alheia a tudo. Mas, por dentro, eu estava nervosa de que tudo isso fosse mentira.

Suspiro, sem acreditar que aquilo estava acontecendo. Daqui a poucos minutos eu sairia de casa para jantar na companhia do homem com quem venho fantasiando há anos. Quantas vezes eu me peguei sonhando com Paul? Parece tão bobo e louco, mas eu nunca pensei que seria notada por aquele "Deus grego", como minha amiga fez questão de apelidar. Paul era algo que eu nunca almejei por achar que nunca fui notada. Eu só esperava que ele pelo menos soubesse meu nome...

— Será que tudo vai dar certo hoje? — pergunto, nervosa. — Eu mal via a família Evans nos eventos.

Minha mãe para na minha frente. - Será que é uma boa escolha? Não pelo nome, mas por tudo que isso engloba. - Paro e penso. - Sei que isso é pelos negócios, mas também tem a possibilidade de nada disso dar certo.

Minha mãe me olha sabendo que não era somente isso que eu estava com medo, mas ela mantém o tom neutro.

— Eles não são tão influentes como a nossa família, Catarina. São ricos, muito ricos, mas ter dinheiro não quer dizer que todas as portas vão se abrir para você. No nosso meio, ter um sobrenome forte, conexões e legado são mais importantes do que ter somente dinheiro. Eu e seu pai viemos de famílias renomadas, onde cada geração carrega o fardo de ter um nome imponente e bem-visto. Os Evans são ricos, o avô do Paul tinha muitas conexões, mas o pai de Paul caiu de paraquedas na alta sociedade. Para ele é mais difícil seguir com um legado que não era dele. Tanto que ele está nessa situação. - Minha mãe me explica sem ar de soberba, fala somente da margem aos fatos.

— Entendi — digo.

— Por mais que eles sejam ricos, sem as armas certas, a família não sobrevive por muito tempo na alta sociedade em que estamos inseridos — ela continua. - Ainda mais quando o pilar da família era o avô de Evans, então tudo ficou difícil e se eles não tiveram a nossa ajuda, eles vão perder tudo logo. - Minha mãe me fita. - Não estou pedindo para você fazer um sacrifício, somente para ajudar uma outra família, estamos animados com a possibilidade, é porque acreditamos que possa nascer algo bom entre vocês. Nem eu, ou muito menos o seu pai, iríamos obrigar você a se casar com alguém que fosse ruim ou falso com você.

- Eu entendo, somente essa situação é estranha... Conhecer alguém que todos já consideram como meu noivo, sendo que eu mal troquei algumas palavras com ele ao longo da minha vida.

- É estranho mesmo, mas vai passar essa sensação.

— Então eles precisam do casamento para isso também? — pergunto. - Para reerguer o nome deles... - Não era uma pergunta.

Minha mãe balança a cabeça, mesmo eu falando com os meus pensamentos.

— De certa forma, sim! Com nossos nomes entrelaçados, eles terão acesso a muitas regalias que antes não tinham. Sua cunhada vai poder arrumar um casamento com uma família importante... Seu futuro noivo vai ter mais oportunidades de crescer financeiramente.... Infelizmente as coisas são assim em nosso meio, minha filha. Tudo é movido por contratos e conexões.

— Eu não vou fingir que está tudo bem, mas essa é a nossa realidade — digo mais para mim do que para qualquer outra pessoa. - Terei que me casar, pelo menos estaria ajudando alguém também.

— Não tem nada de errado com essa situação. Casamentos arranjados são feitos aos montes e não somente na nossa geração. Você não vai ser a primeira e nem a última a se casar com base em um contrato, filha. Quando meu pai me disse que eu iria me casar com o seu pai, eu queria fugir...

Olho assustada para minha mãe.

— É verdade, eu pulei a janela do meu quarto no dia do noivado! — Ela ri alto.

— Mãe...

— Sabe, eu estava morrendo de medo de conhecê-lo. Fugi e fui pegar por ele no jardim da casa dos meus pais — ela fala com tanto carinho que eu e Lila rimos muito dessa confissão. — Ele me pegou em flagrante e não me denunciou para os meus pais. Ele não exigiu nada, ele me conquistou naquele momento, minha filha. Eu senti que tinha um cúmplice para a vida toda.

Será que Paul teria essa paciência comigo?

Será que ele vai ser o meu cúmplice?

— Acredito que é questão de tempo para você ser noiva daquele homem belo e educado. Logo você será uma mulher casada com um homem de família e vamos nos fortalecer ainda mais — ela fala, e eu fico toda sem graça.

Ouvimos alguém na porta e, logo, nossa governanta avisa que a família Evans havia chegado e estava me aguardando na sala. Tento afastar o nervosismo que quer tomar conta de mim. Eu nunca tinha estado nessa situação e nem tenho um parâmetro para comparar.

— Okay... — digo, pegando tudo que eu precisava e descendo para o primeiro andar.

— Boa sorte, amiga, e qualquer coisa, estamos aqui — Lila fala quando eu chego ao pé da escada.

— Obrigada.

Desço as escadas, pois é falta de educação deixar alguém esperando. Quando meus olhos pousam em Paul Evans, lembranças da minha insegurança vêm com tudo. Paul conseguia me deixar tímida sem ao menos me conhecer. Acho que andei fantasiando muitos momentos com ele e agora que era real, eu simplesmente travei.

— Boa noite, senhorita Smith, está magnífica nessa noite! — ele diz com um buquê de flores, me olhando intensamente.

Fico toda sem jeito. Por que ele sempre me deixa assim? A família dele está logo atrás, já conversando com meu pai e meus irmãos. Tudo era muito estranho, mas também familiar. Eu sempre sonhei com isso, mas jamais imaginei que de fato iria acontecer.

— Boa noite, senhor Evans, obrigada pelo elogio... — digo tão sem graça que sinto as minhas bochechas pegando fogo.

— Boa noite, senhorita Sanches, senhora Smith — ele cumprimenta as duas que estavam ao meu lado.

Ele beija a mão das duas mostrando que era um cavalheiro.

— É para você... — Ele me entrega as flores, e eu fico sem reação.

— Como... como você sabia que eu gosto de margaridas? — pergunto em descrença.

Paul usava um terno de três peças na cor cinza-chumbo, o cabelo perfeitamente penteado. A gravata estava alinhada, e seu sorriso era muito sedutor. Voltando à pergunta que não quer calar: como ele sabia que eu gostava dessas flores específicas?

- Pedi ajuda ao seu pai... - Meu pai pisca para mim. - Ele me disse que se eu queria conquistar seu coração, então que lhe desse margaridas para começar o meu caminho...

Olho para Paul tentando decifrar o que estava acontecendo, mas eu tinha tudo, menos controle do que estava acontecendo e pelo que estava por vir.

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