Capítulo 7 – O Jogo Começou
O fim do expediente chegou como um alívio silencioso. As luzes da empresa foram se apagando aos poucos. Augusto passou por ela sem dizer uma única palavra. O terno impecável, o passo firme… mas os olhos, ah, os olhos… Por um instante, Eloise os encarou. Havia algo ali. não era apenas cansaço. Não era raiva, nem pressa. Era dor. Uma dor contida, sufocada, quase imperceptível. E por um breve segundo, doeu nela também. Sem entender o motivo, ela ficou parada, com aquela sensação estranha cravada no peito. A tensão pairava sobre ele como uma sombra. No elevador, apenas o som metálico do mecanismo quebrava o silêncio. Ele desceu até a garagem particular, onde o motorista já o esperava, de prontidão ao lado do carro de luxo preto. Sem uma palavra, Augusto entrou no veículo e, com o rosto virado para a janela, seguiu para o apartamento. Assim que chegou à cobertura, tirou o paletó, afrouxou a gravata e foi direto ao bar no centro da sala, uma peça sofisticada e imponente como tudo ao seu redor. Serviu-se de um whisky sem gelo, girando o líquido âmbar no copo com movimentos lentos. Caminhou até a janela panorâmica que tomava toda a parede da sala. A noite caíra sobre Cidade Norte, e as luzes da metrópole pulsavam como estrelas urbanas. Mas os olhos verdes dele estavam longe dali. Segurando o copo com firmeza, ele se perdeu nos próprios pensamentos. O convite ainda latejava na mente como uma ferida aberta. Mais um jantar da alta sociedade. Mais um plano do pai para uní-lo à família de Thamires. Thamires… Um flash. Ela sorrindo com o vestido vermelho, dançando com ele no baile da empresa, os olhos brilhando como se estivessem apaixonados. Outro flash. Ela nua, deitada de bruços. O melhor amigo dele beijava suas costas enquanto ela sorria, tranquila… como se fosse um casal feliz. E mais um. O pai dele, José Monteiro, dizendo com frieza: — Esse tipo de coisa se supera, Augusto. Os negócios não podem parar por causa de uma decepção pessoal. A mágoa era um veneno que nunca deixou de correr nas veias. A traição não foi apenas de uma mulher, mas da família, dos amigos, e do próprio sangue. Ele engoliu o whisky de uma vez. O calor da bebida não era nada comparado à raiva gelada que o consumia por dentro. Quando o celular tocou em cima da bancada, ele não deu atenção de imediato. Mas, ao ver o número desconhecido, ergueu uma sobrancelha, curioso. Atendeu com sua voz firme e impessoal. — Alô? Uma pausa. — Oi, Augusto… A voz do outro lado da linha fez seu coração dar um passo atrás. Thamires. Ele não precisou de mais nada. Conhecia aquele timbre como quem reconhece uma cicatriz no próprio corpo. — Que surpresa… — respondeu, seco. — Surpresa mesmo é você estar fugindo de mim — ela disse com um tom sarcástico. — Vai evitar o jantar também? Augusto respirou fundo, apertando o copo entre os dedos. — Não tenho por que evitar nada. Eu vou. — Sozinho? Ele hesitou por um segundo, só um segundo… e mentiu: — Não. Vou com minha namorada. — Namorada? — ela riu. Uma risada amarga. — Isso vai ser interessante. Mal posso esperar pra conhecer a santa que conseguiu amolecer esse seu coração de pedra. A ligação terminou, e Augusto permaneceu imóvel. Namorada. A palavra ecoou como uma explosão inesperada. Na sua mente, apenas uma imagem: Eloise. A morena atrevida, de olhos vivos e língua afiada. A mulher que apareceu como um raio em meio à escuridão da sua rotina. — Merda… — murmurou, passando a mão pelos cabelos. Agora não tinha volta. Ele precisava dela. Precisava que ela aceitasse ser sua acompanhante naquele jantar. Um papel temporário… ou talvez não. Mas como convencer Eloise a entrar nesse jogo? Um jogo sujo, com pessoas dissimuladas, onde ninguém é inocente e todo mundo tem algo a esconder? Ele sabia que ela poderia se machucar. Mas também sabia que, naquele momento, já não tinha mais opção. E, no fundo, mesmo sem admitir… Ele queria ver o que aconteceria quando misturasse aquela mulher forte e inesperada com um mundo de máscaras e traições. O jogo estava prestes a começar.