Capítulo 6

Capítulo 6

A brisa da primavera ainda pairava leve quando Eloise voltou do almoço. E o leve tom coral nos lábios combinava com o conjunto bege que realçava sua elegância discreta. Era 15h30 em ponto quando entrou na sala de café da empresa. Preparou uma bandeja com uma xícara de café, adoçou como ele costumava tomar — sem perguntar, mas com intuição afiada — e seguiu até a sala de Augusto.

Bateu antes de entrar.

— Posso? — perguntou.

— Entre — respondeu ele, sem tirar os olhos do notebook.

Ela entrou em silêncio, colocou a bandeja sobre a mesa lateral e o observou por um instante. Havia uma tensão nos ombros dele, o maxilar cerrado, como se o mundo ali dentro pesasse mais do que lá fora.

— Café. Achei que precisava. — disse ela com um leve sorriso.

Ele assentiu, sem expressar emoção.

— Obrigado, senhorita Nogueira.

Ela deixou a sala com discrição e voltou ao seu posto. Começou a organizar a agenda da semana seguinte, verificou os relatórios pendentes, respondeu alguns e-mails em nome dele — com a autorização prévia — e se preparava para concluir o dia quando um envelope sofisticado foi deixado em sua mesa pela recepcionista.

Era um convite em papel encorpado, dourado nas bordas, com letras serifadas que exalavam poder e tradição. Ela leu por cima. “Família Monteiro convida para o jantar anual em homenagem às parcerias da elite empresarial da Cidade Norte.” Logo reconheceu o nome do remetente: José Monteiro, pai de Augusto.

Engoliu seco. Aquilo parecia importante.

Com cuidado, pegou o envelope e caminhou até a sala dele. Bateu mais uma vez. Ele autorizou com um murmúrio.

— Este convite chegou agora, senhor — estendeu o envelope.

Augusto pegou o convite, mas ao ler o nome do pai, seus dedos endureceram. O tempo parou por um segundo. O olhar dele perdeu o foco, como se estivesse vendo algo além daquela sala.

Flashbacks explodiram em sua mente como estilhaços.

O som da porta abrindo de madrugada. O sussurro abafado vindo do andar de cima. Ele subindo as escadas em silêncio e parando na porta entreaberta do quarto de hóspedes. E lá estavam eles.

Thamires. Sua noiva.

Caio. Seu melhor amigo desde a infância.

A traição o dilacerou com violência. Nos dias seguintes, seu pai tentou minimizar.

— "Você sabe como são essas coisas. Eles erraram, mas negócios são negócios. A família dela ainda é estratégica, Augusto." — José Monteiro dizia, como se sua dor fosse apenas um obstáculo administrativo.

Augusto deixou de ser gentil naquele instante. Matou com silêncio e frieza o homem sonhador que ainda acreditava em lealdade. Enterrou sentimentos, fechou portas. Desde então, cada jantar como aquele era mais uma tentativa disfarçada do pai para colocá-lo novamente diante da mulher que destruiu tudo — Thamires, a farsa bem vestida.

Ele respirou fundo, os olhos verdes ainda fixos no nome no envelope.

— Pode se retirar, senhorita Nogueira — disse com a voz mais baixa que o normal.

Eloise hesitou por um instante. Viu o modo como ele encarava o papel, o modo como o dedo polegar pressionava um canto da borda como se aquilo o irritasse profundamente. Algo ali o feriu.

Ela queria perguntar, mas não era seu lugar.

— Claro, senhor Monteiro.

Ela se virou para sair, mas ao fechar a porta, olhou discretamente para trás. E viu o exato momento em que ele guardava o convite na gaveta e o trancava com a chave.

Não disse nada.

Mas uma centelha de curiosidade ficou acesa dentro dela.

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