CAÇA
O capanga rastejava pelo mato com a dor grudada nas costelas, mas a dor era só detalhe diante do ódio que o queimava por dentro. Cada respiração era raiva. Cada passo, vontade de acertar quem lhe devia algo — mesmo que essa coisa fosse só sangue e ordens.
Ele tirou o celular do bolso, as mãos trêmulas. Discou.
— Chefe, ela fugiu — ofegou. — A garota e a sua mulher, Márcia. Tô no mato atrás delas. Elas tão tentando dar a volta pra pegar a estrada. Não sei dizer exatamente onde.
Do outro lado da linha, a voz de Antônio veio baixa, como um corte:
— Cachorra. Acha essa garota. Agora.
— Chefe, não volte pra fazenda. A polícia invadiu lá. Mas coloca gente na ponte, tem um rio mais a frente, elas vão tentar seguir o rio. Não vão ter coragem de atravessam o rio gelado. Põe homens antes da ponte e espera.
Antônio desligou antes que o capanga pudesse responder. Ficou olhando a tela como se o mundo inteiro coubesse naquele retângulo luminoso.
— Preciso de homens que queiram dinheiro