Início / Máfia / Entre o Crime e a Paixão / Capítulo 3 - Saindo a passeio
Capítulo 3 - Saindo a passeio

Toda a confusão com o carro e o detetive me fez esquecer completamente das mensalidades da faculdade do Diogo. Só me lembrei de que estava sentada sobre milhares de dólares quando a porta do elevador se abriu e Sarah e eu chegamos ao andar do escritório. Todos, até os chefes, estavam lá, em volta da entrada, sorrindo.

Quando entrei na sala, uma salva de palmas estourou, e por um instante eu não fazia ideia do que estava acontecendo. Depois lembrei da generosa doação coletiva deles — e corei. Mais pela distração do que por vergonha, embora ainda houvesse um pouco dela: a vergonha de não conseguir dar ao meu filho a educação que ele precisava e merecia, apesar de trabalhar feito uma condenada por décadas desde que o tive.

Aquelas pessoas do escritório, porém, tinham acabado de me dar mais do que toda a minha família em todos esses anos. Meus pais me toleraram durante a gravidez e até os primeiros anos do Diogo. Mas, assim que completei dezoito, eu estava por conta própria.

Agora, pela primeira vez, eu não me sentia tão sozinha.

Aproveitei para agradecer pessoalmente a cada um no escritório por seu sacrifício. Tirando os chefes, todos ali travavam suas próprias batalhas para fechar as contas no fim do mês, então eu não podia esperar outro gesto assim tão cedo — mesmo que fosse precisar. Ainda não fazia ideia de como manter o Diogo na faculdade depois que o dinheiro da matrícula acabasse.

Quando terminei de agradecer, voltei apressada à minha mesa — o trabalho estava se acumulando e me manteria ocupada até a noite. A verdade é que eu não queria sair do escritório e encarar aquele problema caríssimo e esportivo que tinha caído no meu colo. Aquele carro só podia trazer encrenca. Pertencia a um homem possivelmente perigoso e misterioso que agora estava com o meu carro. Eu podia ser abordada pela polícia assim que saísse, e o que diriam os vizinhos ao verem aquilo estacionado em frente ao meu prédio?

Ao mesmo tempo, eu queria muito ver o Diogo e entregar o cheque, contar as boas notícias de que no próximo semestre ele finalmente iria para a faculdade — mesmo que a gente não soubesse por quanto tempo.

Enfim, desci até o estacionamento quase vazio e me aproximei do carro.

De novo, a porta se abriu para mim como se o próprio carro fosse um cavalheiro. Sentei-me e pisei no freio, vendo todas as luzes e telas se acenderem. Ignorei o porta-luvas e tentei descobrir como ligá-lo. Já estava ligado? Seria elétrico? O silêncio era inquietante — não havia chave para girar, nem alavanca para puxar. Eu precisava falar com ele? Pedir por favor? E, quando ligasse, será que eu conseguiria controlá-lo? Ou sairia voando do terceiro andar direto para a morte, ainda segurando o cheque do Diogo?

Peguei o celular e procurei vídeos. Não havia muitos. O carro era raro. Achei um em que uma mulher altíssima e magra, num vestido colado, fazia um tour com possíveis compradores explicando as funções do veículo. Eu definitivamente não compraria um carro dela.

Mas, pensando bem, todas as pessoas novas que eu conheci naquele dia também não pareciam muito confiáveis.

Logo consegui ajustar o banco para o meu tamanho bem mais modesto e dei ré, saindo da vaga. O carro deslizou suavemente e apitou a cada objeto ao redor. Havia até uma câmera mostrando a manobra. Saí para a rua na velocidade mais baixa possível e entrei na avenida. Como era uma reta, consegui acelerar um pouco. E, pra ser sincera, era muito confortável. Tão confortável que, sem perceber, eu já estava muito acima do limite de velocidade! O meu carro normal grita como um filme de terror quando passo de 60 km/h perto de uma escola.

Aquele, não. Ele fazia as curvas quase sozinho, silencioso por dentro — e eu nem imaginava o rugido de fera que soltava por fora. Se a polícia estivesse me perseguindo, me perderia em minutos! Aquilo era um sonho. Eu poderia até me acostumar com isso… se não fosse o toque insistente do telefone no painel.

Eu jamais atenderia uma ligação dentro do carro de outra pessoa, mesmo que soubesse qual botão apertar.

Mas talvez devesse ter atendido — porque logo a tela principal exibiu uma mensagem, endereçada a mim:

“Está gostando do meu carro, Carla?”

Um arrepio gelado percorreu minha espinha.

Ele estava me vigiando.

Desacelerei imediatamente — e decidi que atenderia a próxima chamada, se aquela loira das pernas intermináveis do vídeo tivesse me ensinado como.

Continue lendo este livro gratuitamente
Digitalize o código para baixar o App
Explore e leia boas novelas gratuitamente
Acesso gratuito a um vasto número de boas novelas no aplicativo BueNovela. Baixe os livros que você gosta e leia em qualquer lugar e a qualquer hora.
Leia livros gratuitamente no aplicativo
Digitalize o código para ler no App