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Capítulo 4 - Venha até a minha casa

Não houve outra ligação. Em vez disso, uma nova mensagem apareceu na tela:

“aperte o ícone de casa.”

Na tela, entre todos aqueles ícones piscando, setas, números e luzes, havia de fato um pequeno ícone com uma casinha. Fiquei sinceramente ofendida quando o sujeito achou necessário mandar outra mensagem explicando:

“é o ícone da casinha branca.”

Por acaso ele achava que eu era idiota?

Com o dedo suspenso no ar, hesitei. Eu estava prestes a apertar um comando dentro do carro de um sujeito extremamente suspeito — que, diga-se, praticamente roubou o meu carro! Mesmo tendo deixado outro incrivelmente caro no lugar… seria o certo fazer o que ele mandava? Quem era esse cara, afinal? E por que ele precisava do meu carro pra fugir da polícia, se tinha essa máquina incrível?

Lembrei da arma, dos passaportes, do dinheiro e de outras coisinhas suspeitas, e cheguei à conclusão de que aquelas não deviam ser as únicas ilegalidades ali dentro.

Meu Deus… tem um corpo no porta-malas!

Imediatamente tirei o dedo da tela e pisei com tudo no freio. A máquina poderosa parou seca. Fiquei ali, agarrada ao volante, com os nós dos dedos brancos.

Isso me tornava cúmplice de assassinato. Se a pessoa no porta-malas tivesse sido assassinada. Se houvesse mesmo alguém lá. Mas é claro que havia. Por que outro motivo ele abandonaria o carro e levaria o meu?

A situação parecia sombria.

O que eu faço? O que eu faço? O que eu faço??

Calma, Carla. Respira. Vamos pensar.

Se esse cara é um assassino de machado, é o pior do mundo — porque dar um carro esportivo de luxo pra alguém é a pior forma possível de atrair uma vítima. Então talvez ele não queira matar ninguém. Talvez só queira o carro de volta. Talvez.

Ou talvez ele esteja metido em alguma coisa muito estranha — e o motivo disso tudo esteja bem aqui, dentro desse carro. Nesse caso, eu sou cúmplice de… seja lá o quê.

Preciso me livrar disso. Rápido.

O oceano não fica longe… Mas será que eu conseguiria dirigir até lá e jogar o carro na água? E se eu me afogar? E se alguém me vir? Ou e se eu tacar fogo nisso?

Para, Carla! Ele sabe quando eu estou dentro do carro. Sabe quando eu estou dirigindo. E provavelmente sabe onde eu estou! Não faço ideia de que tecnologia tem nessa coisa, mas, no mínimo, um GPS superavançado deve ter. E eu não quero esse homem vindo atrás de mim. Ele sabe onde eu trabalho!

Argh, eu odeio esse cara! Nem o conheço e já odeio.

— Carla, garota, sua melhor opção é devolver o carro, pegar o seu de volta e ir pra casa descontar esse cheque! — falei em voz alta, pra mim mesma.

Eu precisava desse empurrão.

Então, plenamente consciente de que minha vida não ia melhorar depois daquilo, apertei o ícone de “casa”.

Uma voz eletrônica suave sussurrou:

“Em duzentos metros, vire à esquerda.”

E, sem muita escolha, eu fui.

Argh, eu não sei, e te odeio! Odeio!

Acelerei pelas ruas e avenidas, rezando pra não ser parada pela polícia. Também rezei pra que, se houvesse um corpo no porta-malas, eu não estivesse deixando um rastro de sangue. Essa não era uma história que eu pudesse explicar ao detetive Valentine. Ou a ninguém, na verdade.

Mas os bancos de couro aquecidos e o controle perfeito do carro deixavam a viagem estranhamente agradável.

O GPS me guiou até a maior casa que eu já tinha visto. O portão era de ferro trabalhado, cheio de arabescos. Diante dele, dois brutamontes armados com metralhadoras me observavam se aproximar.

O portão se abriu suavemente. Dirigi pela estrada que subia o morro onde a mansão ficava. Mesmo no escuro, reconheci quadras de tênis, uma piscina, um jardim florido e até um labirinto de arbustos.

A entrada da casa moderna parecia um museu.

Num dos muitos níveis de concreto, intercalados por varandas e jardins, uma porta enorme estava aberta. A noite era fria, e a luz quente que vazava de lá dentro parecia convidativa. Mais homens armados me orientaram a seguir até ela.

Encontrei-me num corredor amplo, com uma ópera tocando alto nos alto-falantes ao longe. Segui a voz da mulher italiana, que cantava suas dores, e entrei numa cozinha moderna e imensa. Panelas ferviam sobre o fogão. O cheiro era hipnotizante. Um molho borbulhava numa panela, e de outra saía uma coluna de vapor. Claramente ele não era quem lavava a louça depois.

— Oh! Olá! — a voz dele surgiu do nada, sobrepondo-se à da cantora.

Virei-me e o vi saindo da despensa, uma garrafa de vinho em uma mão e um pedaço de pão na outra.

— A viagem até aqui foi tranquila? O carro dirige suavemente, não é?

Ele usava as mesmas calças e sapatos pretos de antes, mas havia tirado o paletó e a gravata. As mangas da camisa branca estavam dobradas até os cotovelos — e manchadas de sangue.

Ele percebeu meu olhar fixo nelas. Eu não lembrava de tê-las visto antes.

— Ah, isso? Não se preocupe. É só molho de carne.

Aham. Aposto. E aposto que o dono desse “molho” tá no seu porta-malas.

Devia ter entregue seu cartão pro policial.

— Aqui, você deve estar faminta. — Ele me ofereceu um pedaço de pão com um naco daquele molho.

Devo ter recuado um pouco, porque ele insistiu:

— Vamos lá... Passei quase uma hora cozinhando isso. — Pegou minha mão e colocou o pedaço nela. — É delicioso. É uma receita que aprendi com... com um amigo na Itália. A gente estava no iate dele, na costa da Sardenha. Mar azul lindíssimo! E ele passou a tarde toda cozinhando isso. O segredo, me dizia ele, não está nem nas dúzias de ervas nem no vinho que ele usava... Está no... Ah, desculpe, estou aqui tagarelando. Deveria deixar você provar primeiro.

Enquanto falava, abriu a garrafa de vinho, serviu duas taças e me entregou uma.

O aroma da carne no pão, quente em minhas mãos, fez minha boca salivar. Cheirava como o paraíso depois de um dia infernal.

— Vamos, é seguro, eu juro. É o mínimo que posso fazer depois de você ter me ajudado tanto hoje. — disse, com a voz mais suave e convincente do mundo.

E, deixando claro que não aceitaria um “não”, ele me fez dar uma mordida.

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