Lex
O abrigo estava tão lotado que parecia um formigueiro humano. Gente falando, rindo, chorando, comendo, dormindo em colchonete — tudo ao mesmo tempo.
E lá no meio, estava ela.
Ana Luiza Prado.
De moletom cinza, cabelo preso de qualquer jeito e uma expressão que misturava teimosia com exaustão.
Mesmo ali, cercada de caos, ainda chamava atenção. Era irritante como ela conseguia isso sem fazer nada.
Atravesso o corredor, desviando de umas crianças correndo, até parar perto dela. Ela está sentada numa cadeira de plástico, segurando uma caneca de café e fingindo que não me viu.
— Vai continuar fingindo que não me enxerga? — falo, parando na frente dela.
Ela ergue os olhos devagar, como quem já esperava por isso.
— Achei que você tivesse desistido.
— Não desisto fácil.
Ela dá um meio sorriso.
— Eu percebi.
Ficamos em silêncio por alguns segundos. O barulho do abrigo é constante — pratos batendo, gente conversando alto, o rádio tocando uma música velha no fundo.
Mas ali, entre nós d