64. Um colar na lama (Vicente)
A manhã nasceu cinza, como se o céu carregasse o peso de algo não dito. O cheiro de terra molhada impregnava o ar, e poças barrentas salpicavam o caminho que Tereza percorria diariamente até a vila. A chuva forte da noite anterior deixara tudo ainda mais difícil — o barro grudava nos sapatos, tornando cada passo um esforço redobrado.
Ela carregava uma sacola de pano sobre o ombro, os dedos gelados segurando o tecido áspero. O vento ainda soprava frio, embora o sol tímido começasse a surgir por entre as nuvens carregadas.
A estrada era quase sempre vazia àquela hora da manhã. Apenas algumas carroças atoladas na lama ou trabalhadores saindo cedo para suas tarefas. Tereza gostava do silêncio, do tempo para organizar seus próprios pensamentos. Mas naquela manhã, um detalhe chamou sua atenção.
Algo brilhou no chão, refletindo a luz fraca do sol recém-nascido.
Ela franziu o cenho e se abaixou, afastando um pouco do barro com os dedos. O coração bateu mais rápido quando viu o que era