67. O pingente de família (Vicente)
O peso das moedas dentro da bolsinha era quase imperceptível, mas Tereza conhecia bem o valor de cada uma delas. Depois de uma tarde inteira na praça da feira, já havia vendido boa parte dos quitutes, e o som do metal se chocando dentro do tecido grosso era sua pequena vitória diária.
O sol começava a se inclinar no horizonte, lançando sombras mais alongadas pelo chão de terra batida. O cheiro doce das frutas maduras misturava-se ao tempero forte das barracas de comida, enquanto o burburinho dos fregueses enchia o ar com vozes animadas e pechinchas acaloradas. Tereza estava acostumada com aquele ritmo, aquela disputa silenciosa por cada venda, cada moeda que ia se acumulando com esforço.
Ela se abaixou para ajeitar a cesta de quitutes, passando os dedos pelo tecido áspero do pano que os cobria, quando um som cortou sua atenção como uma lâmina afiada.
— Tereza!
A voz ecoou entre as barracas, estridente e desesperada.
Seu coração pulou no peito antes mesmo de ela se virar. Ros