O Morto que Volta pra Cobrar
Narrado por Muralha
O céu tava turvo. Cinza, espesso, abafado. Daqueles que anunciam o fim antes da chuva cair.
E era isso mesmo.
Fim pra alguém.
Eu subi a viela com Alana do meu lado, o boné baixo, o rosto em sombra, e o nome escondido sob o silêncio do morro.
Porque ali, naquelas vielas apertadas, todo mundo achava que eu tava morto.
Explodido. Carbonizado. Sumido.
E eu deixei.
Deixei porque morto é o que eles menos esperam que volte.
Mas agora, eu voltava.
De carne, osso e vingança.
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Diguinho já tinha feito o chamado.
O galpão tava cheio. Uns dez vapores. Todos convocados. Todos com cara de enterro.
E era isso mesmo.
Alguém ia ser enterrado. Só faltava saber o nome da lápide.
Chegamos na entrada lateral. A que ninguém usa. A que só eu e o destino conhecemos.
— “Vamo.” — murmurei pra Alana.
Ela apertou meu braço. Um gesto mudo que dizia: Tô contigo. Se for pra morrer, que seja de frente.
Abaixei a cabeça. Abri o