[Narrado por Julião]
O portão da base fechou atrás de mim, mas o peso continuou nos ombros.
Saí andando com passo firme, mas o coração batia fora de compasso. Cada soldado que cruzava meu caminho, cada olhar atravessado, cada silêncio forçado… tudo parecia código.
Tão me vigiando.
A Coronel sabe que tem peça fora do tabuleiro dela, e ela tá farejando. De longe, de perto, debaixo da unha.
Entrei na viela lateral, onde deixo a moto escondida, e disfarcei enquanto ajustava o capacete.
O capacete protege o rosto.
Mas o que protege o que eu penso?
Nada.
...
Cheguei em casa com o estômago preso, como se tivesse engolido chumbo.
Tirei a farda na entrada — não por respeito, mas por segurança. Aquilo ali carrega mais microfone e sensor do que colete da PM. Deixei em cima da máquina de lavar, junto com o rádio desligado.
Fui direto pro quarto. Luz baixa, cortina fechada, celular velho dentro da gaveta de ferro.
Peguei o outro.
Aquele que só tem um número salvo.
Toquei.
Uma, duas... na terceira,