Terminei o banho me sentindo outra. Ou quase.
A água gelada não lavava passado, mas dava um choque de presente. Me lembrou que eu ainda tava aqui. Ainda viva. Ainda de pé.
Enrolei a toalha no corpo, sentindo o tecido áspero grudar na pele. Andei até o colchão no canto do bunker. Caio tava sentado, limpando uma pistola com um pano velho. O olhar dele subiu — e ficou.
— “Se tu continuar olhando assim, juro que te dou um soco.” — avisei, seca.
Ele levantou as duas mãos, rindo.
— “Não tô olhando com maldade. Tô admirando a obra de Deus.”
— “Obra uma ova.” — joguei uma latinha de atum vazia na direção dele. — “Tô te avisando, Caio.”
— “Tá avisado. Mas se tu quiser andar pelada por aqui, ninguém vai reclamar.”
— “Ninguém? Porra, tem mais gente nesse buraco?”
— “Tem eu. E já é gente demais.”
Sentei no colchão, segurando a toalha com firmeza. Ele me olhava de rabo de olho, mas dava pra ver que a cabeça dele tava a mil. Não só pela visão — mas pelo que vinha depois.
— “A gente vai