[Narrado por Caio – o Muralha]
A moto vibra debaixo da gente como se tivesse alma.
Ou raiva.
Ou os dois.
Eu com uma mão no guidão e a outra pronta pro gatilho. Ela atrás de mim, grudada. Corpo quente, respiração no meu cangote. E a Glock no colo, igual o coração dela: destravado e em alerta.
Essa porra não é fuga.
É recomeço.
Ou fim bonito, dependendo do ponto de vista.
— “Tu tá bem aí?” — grito contra o vento.
— “Melhor que muito viva por aí.” — ela responde, e eu sorrio. A porra do sorriso que ninguém entende, mas quem já perdeu tudo reconhece.
A cidade passa borrada do lado. Prédios, postes, igreja, boteco. Tudo parece olhar pra gente com medo ou respeito.
Ou os dois.
Porque não é todo dia que uma farda e um traficante cruzam o mapa como se fossem cometa.
Ou maldição.
— “Tu sabe que agora é real, né?” — digo, sem olhar.
— “Sempre foi.” — ela responde.
Acelero.
Porque eu gosto de ouvir ela falar sério no meio da merda. Tem mulher que geme. Alana rosna. E isso me acende de um jeito q