Mundo de ficçãoIniciar sessãoO último dia do treinamento começou com o som das cadeiras sendo arrastadas e o burburinho típico de fim de evento.
Ela tinha dormido mal.
— Hoje é o último módulo, pessoal — anunciou, projetando um slide na tela. — Vamos revisar os principais pontos e fazer a simulação final.
Mal terminou de falar e o projetor piscou, fazendo um ruído seco antes de apagar completamente.
— Droga… — ela sussurrou, apertando os botões do controle. — Não pode ser agora.
Rafael se aproximou, tirando o blazer e dobrando as mangas.
— Está tudo bem, eu resolvo — respondeu, mas a voz traía irritação.
— Eu sei que resolve — disse ele, calmo. — Mas às vezes, ajuda ter um par de mãos a mais.
Ela respirou fundo, tentando não se render ao magnetismo daquele tom.
— Parece que o cabo está com mau contato — murmurou. — Tem uma tomada reserva ali, atrás da mesa.
Lívia se abaixou também, para ver melhor.
— Desculpa — ele disse, baixo, como se o ar estivesse carregado demais pra usar voz alta.
Ela engoliu seco. — Tudo bem.
O silêncio que se formou parecia vivo.
— Aqui — disse ele, finalmente, conectando o cabo. — Tenta agora.
Lívia levantou-se rápido, apertando o botão do controle.
— Pronto — disse, forçando um sorriso. — Problema resolvido.
— Ou adiado — respondeu ele, de pé agora, limpando as mãos. — Porque o verdadeiro problema, Lívia… — fez uma pausa breve, com os olhos cravados nos dela — …é quando a gente tenta consertar o que não quer ser consertado.
Ela sentiu um arrepio.
— Claro que sabe. — A voz dele era calma, mas o olhar queimava. — Você está tentando consertar o que sente desde o primeiro dia.
O coração dela acelerou.
— Rafael… isso aqui é um treinamento.
— E eu tô aprendendo. — Ele deu um passo à frente, quase imperceptível. — Aprendendo o quanto é difícil ignorar o que é real.
Ela desviou, recolhendo as pastas com gestos apressados.
Mas o corpo… não obedecia.
— A aula ainda não acabou — disse ela, forçando firmeza.
— Então me ensina — respondeu, com aquele meio sorriso que a desarmava por completo. — Porque tudo o que eu tento aprender sobre você me deixa com mais dúvidas.
Por um instante, ela pensou em responder.
— Sente-se, Rafael — disse, finalmente. — Vamos terminar o conteúdo.
Ele obedeceu, mas o sorriso ainda estava lá.
Naquela noite, sozinha no quarto do hotel, Lívia ficou olhando a mala arrumada aos pés da cama.
E, sem perceber, pegou o celular e abriu a tela das mensagens.







