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Capítulo 5 -O Problema Técnico

O último dia do treinamento começou com o som das cadeiras sendo arrastadas e o burburinho típico de fim de evento.

Alguns participantes riam, trocavam contatos, outros já pensavam no voo de volta.

Lívia, no entanto, tentava manter a postura intacta, mesmo com o corpo cansado e a mente… distraída demais.

Ela tinha dormido mal.

A lembrança do olhar de Rafael dentro do carro ainda pulsava em algum lugar entre o peito e o estômago.

Tentava fingir normalidade, mas cada vez que o via encostado na parede, de braços cruzados, com aquele sorriso calmo, o autocontrole se tornava uma tarefa quase heroica.

— Hoje é o último módulo, pessoal — anunciou, projetando um slide na tela. — Vamos revisar os principais pontos e fazer a simulação final.

Mal terminou de falar e o projetor piscou, fazendo um ruído seco antes de apagar completamente.

A sala ficou no escuro por alguns segundos.

Um murmúrio coletivo se espalhou.

— Droga… — ela sussurrou, apertando os botões do controle. — Não pode ser agora.

Rafael se aproximou, tirando o blazer e dobrando as mangas.

— Deixa eu ver.

— Está tudo bem, eu resolvo — respondeu, mas a voz traía irritação.

— Eu sei que resolve — disse ele, calmo. — Mas às vezes, ajuda ter um par de mãos a mais.

Ela respirou fundo, tentando não se render ao magnetismo daquele tom.

Ele se ajoelhou perto do cabo do projetor, os dedos firmes, atentos, o cheiro do perfume dele misturado ao leve aroma metálico do equipamento.

— Parece que o cabo está com mau contato — murmurou. — Tem uma tomada reserva ali, atrás da mesa.

Lívia se abaixou também, para ver melhor.

Ficaram próximos demais.

Tão próximos que ela sentiu o calor da respiração dele no pescoço.

— Desculpa — ele disse, baixo, como se o ar estivesse carregado demais pra usar voz alta.

Ela engoliu seco. — Tudo bem.

O silêncio que se formou parecia vivo.

Nenhum dos dois se mexeu por alguns segundos.

— Aqui — disse ele, finalmente, conectando o cabo. — Tenta agora.

Lívia levantou-se rápido, apertando o botão do controle.

A tela voltou a acender.

A imagem do slide iluminou o rosto dele — e ela percebeu o quanto era perigoso enxergá-lo sob aquela luz suave.

— Pronto — disse, forçando um sorriso. — Problema resolvido.

— Ou adiado — respondeu ele, de pé agora, limpando as mãos. — Porque o verdadeiro problema, Lívia… — fez uma pausa breve, com os olhos cravados nos dela — …é quando a gente tenta consertar o que não quer ser consertado.

Ela sentiu um arrepio.

— Não sei do que está falando.

— Claro que sabe. — A voz dele era calma, mas o olhar queimava. — Você está tentando consertar o que sente desde o primeiro dia.

O coração dela acelerou.

As pessoas na sala voltaram a conversar, distraídas, mas parecia que só os dois existiam ali.

— Rafael… isso aqui é um treinamento.

— E eu tô aprendendo. — Ele deu um passo à frente, quase imperceptível. — Aprendendo o quanto é difícil ignorar o que é real.

Ela desviou, recolhendo as pastas com gestos apressados.

Precisava recuperar o controle.

Precisava lembrar quem era.

Mas o corpo… não obedecia.

— A aula ainda não acabou — disse ela, forçando firmeza.

— Então me ensina — respondeu, com aquele meio sorriso que a desarmava por completo. — Porque tudo o que eu tento aprender sobre você me deixa com mais dúvidas.

Por um instante, ela pensou em responder.

Mas o olhar dele — profundo, calmo, e absurdamente sincero — fez as palavras desaparecerem.

— Sente-se, Rafael — disse, finalmente. — Vamos terminar o conteúdo.

Ele obedeceu, mas o sorriso ainda estava lá.

E quando ela voltou a falar, percebeu que as mãos tremiam levemente sobre o controle remoto.

O problema técnico estava resolvido.

Mas o que se acendera entre eles… não tinha mais como ser desligado.

Naquela noite, sozinha no quarto do hotel, Lívia ficou olhando a mala arrumada aos pés da cama.

Deveria estar aliviada por tudo ter acabado.

Mas algo nela doía — como se algo estivesse apenas começando.

E, sem perceber, pegou o celular e abriu a tela das mensagens.

Nenhuma notificação.

Mas o nome dele estava ali, gravado na memória.

E, por algum motivo, isso bastava pra fazer o coração disparar outra vez.

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