Os dias seguintes foram silenciosos na Constela.
O escândalo com Lian havia arrefecido, mas deixado cicatrizes invisíveis. A editora ainda vendia bem, os seguidores ainda comentavam, os pedidos ainda chegavam — mas algo na alma do projeto parecia fora de lugar.
Aurora se obrigava a sorrir nas reuniões, fingia entusiasmo nas pautas, revisava originais com o cuidado de sempre, mas havia perdido a voz.
Literalmente.
Fazia semanas que não escrevia nada próprio.
Davi notou.
Ele notava tudo.
Numa noite de sexta, preparou o jantar favorito dela — sopa de abóbora com gengibre e pão artesanal com queijo derretido. A música era baixa, as luzes suaves. Um convite à confissão.
— Você ainda não voltou a escrever — ele disse, calmo, sem cobrança.
Ela mexeu na sopa devagar.
— Toda vez que tento, parece que as palavras escapam. Como se eu tivesse perdido o direito de contar histórias.
— Você não perdeu nada, Aurora. Você foi ferida. E feridas precisam de tempo.
Ela respirou fundo. Pela primeira vez e