A Constela Editora crescia como uma planta teimosa entre rachaduras. Cada novo autor publicado era uma raiz se espalhando por baixo do concreto da indústria tradicional. Aurora e Davi, mesmo sem experiência no mercado editorial, estavam determinados a manter a essência que os fez começar.
E foi assim que, entre dezenas de textos enviados, uma história em especial caiu nas mãos de Aurora e a fez perder o sono.
O autor assinava como Lian M. e enviara um original chamado “Gente Que Fica Pela Metade”. Era cru, sincero, doloroso — como se alguém tivesse sangrado em cada página. Aurora devorou o manuscrito em uma noite.
Na manhã seguinte, entregou o texto para Davi, com os olhos ainda marejados.
— Você precisa ler isso. É brilhante. Brilhante e incômodo.
Davi, ainda meio sonolento, assentiu.
— Isso parece um elogio e um aviso.
— É exatamente isso.
Lian era jovem, vinte e dois anos, cabelos descoloridos mal pintados e uma intensidade que assustava. Quando apareceu na editora para conversar,